domingo, 17 de junho de 2018

Dirigente partidário diz que ativista nunca esteve nas listas para Governo de Timor


Díli, 16 jun (Lusa) - Um dirigente do Partido Libertação Popular (PLP), um dos três que integra a coligação AMP que venceu as legislativas timorenses com maioria absoluta, garantiu hoje que a ativista Bella Galhos "nunca foi seriamente considerada" para o próximo Governo.

"Para ser honesto, Bella Galhos nunca foi seriamente considerada para ser incluída no elenco do próximo Governo", disse à Lusa um alto dirigente do PLP que pediu o anonimato.

"Estou envolvido no processo de seleção dentro do PLP. Sei, com toda a certeza, que ela nunca foi uma forte candidata para qualquer cargo", sublinhou.

Os comentários surgem depois de Bella Galhos, uma das mais respeitadas ativistas timorenses, ter afirmado à Lusa que o seu nome foi retirado do elenco ainda desconhecido do próximo Governo de Timor-Leste, por questões "morais" relacionadas com a sua orientação sexual.

"Esta é a informação interna que me comunicaram, dentro do partido. O que me disseram é que, por ser LGBT, moralmente isso não é aceitável", afirmou.

Bella Galhos é militante do Partido Libertação Popular (PLP), liderado por Taur Matan Ruak, o ex-Presidente da República, e que integra a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a coligação que venceu as eleições de 12 de maio com maioria absoluta.

Os dirigentes máximos da AMP - Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Taur Matan Ruak e José Naimori (líder do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - estão a fechar a composição do Governo.

"Não digo que esta posição foi de Taur, mas fico desiludida que ele não tenha conseguido combater esta posição", afirmou Galhos.

O dirigente do PLP ouvido pela Lusa lamenta que o partido esteja a ser "injustamente acusado de a discriminar no processo de seleção", insistindo que a sua força política "apenas avalia as pessoas pelo seu trabalho ou contributo e por nada mais, muito menos a orientação sexual".

A mesma fonte confirmou que Galhos "tem estado muito ativa no PLP" mas que "muitas outras mulheres estiveram mais ativas que ela desde 2015 e até à campanha".

Galhos, por seu lado, disse ficar "bastante desiludida" com o facto da questão moral ser levantada dentro do seu próprio partido, afirmando que se sente traída por ter convencido jovens e outros membros da comunidade LGBT a apoiar o PLP.

"É um grande desapontamento. Eu nunca quis fazer parte de partidos políticos. O PLP atraiu-me porque era uma alternativa e eu dei o meu contributo, incluindo financeiramente. Ajudei na campanha e a apelar a jovens e jovens LGBT para nos apoiar", disse.

"A esses jovens dei-lhes esperança que com o PLP as coisas iam mudar mas parece que afinal não é assim. Sinto-me discriminada", afirmou.

Já no sábado um dos principais dirigentes do PLP, Fidelis Magalhães, insistiu que Bella Galhos é "uma pessoa valiosa para o partido" com uma "obra e um contributo comunitário bem reconhecidos".

Explicando não poder comentar o caso ou a formação do Governo, cujas decisões "estão a ser tomadas pelos líderes máximos dos partidos", Magalhães rejeitou que a questão da orientação sexual possa ter sido um motivo.

"A Bella é uma pessoa inteligente, pessoa respeitada e com um valioso contributo. Nos processos deste tipo há muitos outros candidatos e eu nem sequer posso comentar o processo porque não sei sequer se está ou não no Governo", disse.

"Quando se considera os candidatos a qualquer lugar politico há muitas considerações e há muitos candidatos. A Bella é sempre respeitada pelo próprio Taur e foi convidada como conselheira para assuntos sociais durante anos na sua Presidência", afirmou.

Galhos, 46 anos, é uma das mais conhecidas líderes da sociedade civil timorense, com um passado de violência que começou dentro da família, às mãos do pai, que teve 18 mulheres e 45 filhos e que aos três anos a vendeu por cinco dólares a um soldado indonésio.

Entre 2012 e 2017 foi conselheira do então Presidente da República Taur Matan Ruak, período durante o qual construiu e geriu a primeira 'Escola Verde' do país, em Leublora, a sul de Díli, onde funciona hoje uma quinta e restaurante de comida orgânica e uma cooperativa de mulheres.

Atualmente gere a Pousada de Maubisse, no centro do país.

ASP // ACG

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