Díli, 21 jan (Lusa) - O
ex-presidente da televisão e rádio públicas timorense, RTTL, disse hoje à Lusa
que a sua exoneração do cargo, da qual soube pelas notícias, foi uma decisão
política depois de uma auditoria liderada pelo seu sucessor no cargo.
"Soube pelas notícias que
tinha sido exonerado. Nem sequer falaram comigo antes ou sobre qualquer
problema que existisse", disse à Lusa Gil da Costa, que foi afastado este
mês do cargo de presidente do Conselho de Administração da Rádio e Televisão de
Timor-Leste (RTTL).
Gil da Costa explicou que foi
afastado alegadamente depois de uma auditoria cujos resultados nunca conheceu,
sem qualquer informação prévia do Governo e sem sequer ter a oportunidade de
ser ouvido ou dar qualquer explicação.
Por isso, na sua opinião,
"foi definitivamente uma decisão política", considerando
"grave" o facto do seu afastamento ocorrer depois de uma auditoria
mandatada pela Secretaria de Estado da Comunicação Social (SECOMS) e conduzida
em outubro por Francisco da Silva '' Gary'', o seu sucessor no cargo e que hoje
tomou posse.
"A nomeação do meu sucessor
é política. Usam a suposta má administração e supostas irregularidades para me
demitirem, mas quem me substituiu foi a pessoa que liderou o processo de
auditoria. E nem sei se a auditoria tem credibilidade. Ainda nem sequer vi o
resultado", afirmou.
Gil da Costa garante ainda que
atuou diretamente para travar tentativas de interferência política na redação,
uma prática "comum" no passado" e que "tentaram continuar
na RTTL" durante o seu mandato.
"Houve várias tentativas de
interferência política sobre mim e diretamente sobre os jornalistas, para
tentar influenciar o conteúdo editorial", afirmou.
"Enquanto presidente insisti
sempre que queria a RTTL como uma instituição independente, sem interferência
política. E travei todas as tentativas disso. E havia muita interferência
política", afirmou.
A decisão de exoneração foi dada
a conhecer ao próprio e a público num curto comunicado do Governo referente à
reunião do Conselho de Ministros de 09 de janeiro, que nem sequer menciona o
seu nome.
"O Governo aprovou a
proposta de Resolução do Governo relativa à exoneração do atual Presidente do
Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Timor-Leste, E.P e a nomeação
do novo presidente do Conselho de Administração da Rádio e Televisão de
Timor-Leste, E.P, Francisco da Silva ' Gary' sob proposta do secretário de Estado
para a Comunicação Social, Merício dos Reis 'Acara'", refere o comunicado.
Apesar de várias tentativas ainda
não foi possível obter um comentário do secretário de Estado, Merício dos Reis.
Gil da Costa foi nomeado para o
cargo de Presidente da RTTL numa resolução do Governo aprovada a 25 de janeiro
de 2018, substituindo Milena Abrantes que terminou nesse mês o seu mandato de
quatro anos.
Questionado sobre se a sua
nomeação -- pelo anterior Governo minoritário liderado pela Fretilin [Frente Revolucionária
do Timor-Leste Independente] -- tinha sido política e, por isso, agora tinha
sido afastado, Gil da Costa rejeita essa sugestão, afirmando que acumulou
"grande experiência profissional" e lutou para evitar
"interferência política".
"Trabalhei durante muitos
anos com agências internacionais. E posso ter sido nomeado pelo Governo
Fretilin mas eu não obedecia à Fretlin. A RTTL é do Estado, não é do Governo. É
uma instituição do Estado, não do Governo", afirmou.
Para evitar atrasos em salários,
"tomei a decisão de usar as receitas próprias da RTTL, em
publicidade".
"A RTTL está sem dinheiro há
seis meses. E não percebo porquê", disse.
ASP // PJA
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