Macau, China, 08 set 2020 (Lusa)
- Uma petição a pedir à Casa Branca a libertação de um grupo pró-democracia
detido na China, que inclui um estudante de Hong Kong com passaporte português,
ultrapassou hoje as cem mil assinaturas necessárias para receber resposta de
Washington.
Na petição, submetida em 02 de
setembro no 'site' "We The People", pede-se a libertação imediata dos
12 ativistas pró-democracia de Hong Kong, detidos pela guarda costeira da
província chinesa de Guandgong, em 23 de agosto, quando se dirigiam para
Taiwan, entre eles Tsz Lun Kok, com nacionalidade portuguesa e chinesa.
"De acordo com a lei
chinesa, a detenção pode ser prolongada durante 30 dias sem acusação, isso não
é aceitável e exigimos a sua libertação imediata e regresso seguro a Hong
Kong", pode ler-se no documento, que regista atualmente mais de 100.500
subscritores.
O 'site' "We The
People" foi criado pela administração Obama e exige um mínimo de 100 mil
assinaturas no prazo de 30 dias para se obter uma resposta oficial do Governo
norte-americano.
Os pedidos para a libertação do
grupo têm-se multiplicado nas redes sociais, tendo sido também um dos apelos
que marcaram as manifestações de domingo em Hong Kong pelo adiamento
das eleições para o parlamento local e contra a nova lei da segurança nacional
imposta por Pequim, durante as quais foram detidas pelo menos 289 pessoas.
Joshua Wong, um dos ativistas
pró-democracia mais mediático, que em junho dizia já à Lusa ser um dos alvos
principais da nova lei da segurança nacional, publicou várias mensagens de
apoio ao grupo detido na China, uma delas a propósito do estudante com
passaporte português, pedindo também ele a sua libertação, e expressando
preocupação com a violação de direitos humanos e de defesa jurídica, bem como
de proteção consular.
Na sexta-feira, o advogado em Hong Kong do jovem, com
dupla nacionalidade portuguesa e chinesa, que se encontra detido em Shenzen, na
China, disse à agência Lusa que o estudante estava já há "12 dias em total
isolamento", e que a polícia chinesa lhe recusou o acesso a um advogado
contratado pela família no continente chinês, alegando que "a investigação
do caso não está concluída".
Os restantes 11 detidos, o mais
novo dos quais tem 16 anos, também terão visto o acesso a um advogado recusado,
segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
Na segunda-feira, dois advogados
confirmaram à AFP que não puderam ver os seus clientes e que outros também
terão visto o acesso aos detidos negado.
Um dos advogados referiu que a
polícia chinesa também se recusou a receber um pedido por escrito para que o
seu cliente fosse devolvido à jurisdição de Hong Kong, levando-o a apresentar
queixa junto dos procuradores em Shenzhen.
Apesar de o crime de que são
suspeitos, "travessia ilegal da fronteira", ter uma pena de até um
ano, a polícia terá dito a um dos advogados que alguns dos detidos podem vir a
ser acusados de organização de transporte ilegal para outrem, o que pode
acarretar prisão perpétua.
O grupo dirigia-se a Taiwan
quando a embarcação em que seguiam foi intercetada pela guarda costeira
chinesa, a 70
quilómetros de Hong Kong, onde enfrentam acusações
relacionadas com a participação nos protestos pró-democracia de 2019, incluindo
tentativa de fogo posto, posse de armas ofensivas e conluio com país
estrangeiro.
O estudante com passaporte
português tinha sido detido na antiga colónia britânica em 18 de novembro, com
outras centenas de estudantes, durante o cerco da polícia à Universidade
Politécnica de Hong Kong (PolyU), que se prolongou de 17 a 29 desse mês, tendo
terminado com a invasão dos agentes ao campus universitário, onde a polícia diz
ter encontrado milhares de bombas incendiárias e armas.
O jovem é acusado de motim, por
ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções da polícia
que cercou as instalações do campus, com o objetivo de permitir a fuga de
estudantes refugiados no seu interior.
Kok, que estudava engenharia
noutra universidade, enfrenta ainda acusações de posse de instrumentos
passíveis de uso ilegal, pelas quais deveria ser ouvido no tribunal de Tuen
Mun, em Hong Kong ,
a 25 de setembro.
Aprovada em 30 de junho, a lei da
segurança nacional, considerada uma resposta de Pequim ao protestos
pró-democracia em Hong Kong ,
sob administração chinesa desde 1997, levou vários ativistas a pedirem asilo no
Reino Unido e em Taiwan.
No barco onde seguia o jovem com
passaporte português encontravam-se mais 11 pessoas, incluindo Andy Li,
ativista pró-democracia detido no mesmo dia que Jimmy Lai, proprietário do
jornal Apple Daily, numa operação da nova unidade policial criada após Pequim
ter imposto a nova lei de segurança em Hong Kong.
PTA (JMC) // VM
Sem comentários:
Enviar um comentário