segunda-feira, 11 de maio de 2015

China divulga projeto de lei de segurança nacional, que poderá restringir direitos cívicos


Pequim, 08 mai (Lusa) -- A China revelou hoje pela primeira vez o esboço de uma lei de segurança nacional que abrange desde a cibersegurança, finanças e religião até às ações militares, e que poderá restringir mais liberdades no país.

O texto, com 82 artigos, foi publicado esta semana ao ser analisado pela segunda vez -- por norma as leis são aprovadas após terceira análise -- na sessão de abril da Assembleia Nacional Popular (ANP, o parlamento chinês), que o colocou agora na sua página na Internet.

O texto foi divulgado publicamente para recolher comentários da população até junho, quando regressará à ANP para uma terceira leitura do projeto, que sublinha a liderança do Partido Comunista no país e pretende estabelecer "um sistema centralizado, eficiente e autoritário em questões de segurança".

Em declarações hoje impressas no diário South China Morning Post, de Hong Kong, a especialista em direito chinês da Universidade de Londres, Eva Pils, considera que o texto reflete a necessidade desta potência mundial expandir o conceito de segurança nacional, mas também suscita o receio de que sejam limitadas mais liberdades, como a de expressão.

Segundo o projeto, "qualquer aspeto da vida social ou económica pode ser considerado assunto de segurança nacional", sublinha Pils. O texto define segurança nacional como "a proteção do regime político, a soberania, a unificação nacional, a integridade territorial e o bem-estar da população" e também o "desenvolvimento sustentável e saudável da economia e da sociedade".

Esta ampla e abstrata definição coincide com anteriores declarações do Presidente chinês, Xi Jinping, quando referiu que a segurança nacional inclui uma série de áreas, incluindo a política, cultura, exército, economia, tecnologia e meio ambiente.

Entre as inovações do texto destaca-se a importância concedida à segurança cibernética, ao especificar-se que o Estado "deve proteger a soberania do espaço digital e a sua necessidade de expansão".

Também citado pelo diário de Hong Kong, o responsável da Amnistia Internacional (AI), William Nee, considera que o texto contém "conceitos problemáticos que pouco ou nada têm a ver com a segurança nacional".

"Esta lei parece pretender mais controlo e de forma agressiva sobre muitos aspetos da vida chinesa em nome da segurança nacional", adiantou.

Em paralelo, o projeto também contempla a preservação da economia de mercado socialista e as indústrias vitais para a nação, e refere que as autoridades devem aplicar mecanismos para prevenir os riscos financeiros regionais e internacionais, mas sem os mencionar.

A proteção dos cidadãos e das organizações chinesas fora do país, e a concretização de operações militares no estrangeiro, para além da colaboração com a comunidade internacional no âmbito da segurança militar para preservar a soberania chinesa e a paz mundial são outros aspetos assinalados no documento.

Estes segmentos poderão ser ainda desenvolvidos no âmbito da lei antiterrorista que está a ser discutida pelos deputados e ainda não foi divulgada.

Diversos especialistas, citados pela agência noticiosa espanhola Efe, consideraram que as duas leis poderão permitir o envio de missões antiterroristas ao estrangeiro, uma ação em aparente contradição com o seu princípio de não-ingerência em política externa.

Ainda no âmbito interno, o texto menciona a proteção da "harmonia étnica" e o combate às ameaças terroristas e à interferência externa em assuntos religiosos.

PCR // EL

Sem comentários: