Macau,
China, 10 mai (Lusa) - Há 11 meses consecutivos que as receitas dos casinos de
Macau registam quebras acentuadas, mas para os residentes nada mudou e poucos
encontram motivos de preocupação.
"Não
me preocupo com isso porque as receitas dos anos anteriores podem durar ainda
algum tempo", considera o senhor Leong, defendendo que, por agora,
"não há grande influência na vida dos cidadãos de Macau".
O
reformado de 58 anos acredita que se podem até verificar consequências
positivas a longo prazo, já que uma descida prolongada do jogo pode levar a uma
redução dos salários e uma consequente redução dos custos da habitação e bens
de consumo.
Será,
então, temporária esta situação? Todos os entrevistados concordam:
"Depende das políticas do Governo da China".
Iao,
funcionário público, prevê que o quadro de Macau "estabilize" dentro
de dois ou três anos, quando a "situação política da China acalmar",
referindo-se à campanha anticorrupção lançada pelo Presidente Xi Jinping e que
é apresentada como a grande causa da queda no jogo em Macau.
Para
este frequentador assíduo da Biblioteca do Tap Seac, os "benefícios
sociais podem ser influenciados", o que causa alguma apreensão entre os
residentes de baixos rendimentos. "Mas eu não estou preocupado, as
receitas dos casinos não podem ser sempre altas. Além disso, Macau é uma boa
plataforma para atrair investimento", comenta, enquanto folheia o jornal
do dia.
Apesar
de os números parecerem alarmantes - os casinos encerraram abril com receitas
brutas homólogas a cair 38% - Macau não aparenta ser uma cidade em crise. Os mercados
mantêm-se em intenso movimento, as lojas continuam repletas de turistas, que
continuam a chegar em numerosos autocarros turísticos, o Venetian - o maior
hotel-casino do mundo que assume a forma de uma réplica de Veneza - continua a
atrair multidões de curiosos e as zonas de jogo não se mostram mais folgadas.
Atualmente,
84,58% das receitas totais de Macau são provenientes dos impostos recolhidos no
setor do jogo, uma proporção que alguns moradores desconhecem ou não consideram
relevante.
"Não
me preocupo com as quedas das receitas. Antigamente não havia casinos em Macau
e sobrevivíamos", comenta a senhora Ng, interrompendo o seu passeio com a
neta no jardim Lou Lim Ieoc.
Para
a reformada de 60 anos, o abrandamento pode afetar os salários dos
trabalhadores dos casinos mas será sempre "temporário". "De
qualquer forma, os clientes são principalmente da China e nós, cidadãos de
Macau, não vamos ao casino".
Opinião
semelhante tem Lam, de 54 anos, que aproveitou a manhã solarenga para visitar o
mesmo jardim: "Não me preocupo, não tem nada que ver connosco. Nunca fui
jogar ao casino e acho que não há influência nenhuma nas pessoas de
Macau".
Já
o estudante de turismo Ho, de 21 anos, admite que a situação o inquieta porque
"a indústria de jogo é a fonte principal dos rendimentos de Macau" e
porque um agravamento do cenário pode prejudicar as suas probabilidades de
encontrar um bom emprego.
No
entanto, o estudante salienta que esta "é uma boa oportunidade para o Governo
de Macau mudar a fonte principal de rendimentos e focar-se noutras
indústrias".
Mais
apreensiva mostra-se a senhora Chen, cujo filho é trabalhador num casino.
"Vai ter grandes efeitos porque a fonte principal das receitas de Macau
vem dos casinos, vai causar desemprego e as pessoas vão ter de ir para fora,
onde há muita competição", lamenta.
ISG
// JMR
Sem comentários:
Enviar um comentário