O
número de deslocados em todo o mundo teve em 2014 o maior aumento já registrado
em um único ano, segundo relatório da ONU. Turquia, Paquistão, Líbano, Irã,
Etiópia e Jordânia são os países que mais recebem refugiados.
O
número de pessoas obrigadas a deixar as suas casas atingiu nível recorde em
2014. Conforme o relatório "Tendências Globais", do Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o deslocamento global provocado por
guerras, conflitos e perseguições atingiu 59,5 milhões de pessoas no final do
ano passado – contra 51,2 milhões registrados em 2013. Há dez anos, o número
era de 37,5 milhões.
O
crescimento de 8,3 milhões de pessoas desde 2013 é o maior já registrado em um
único ano, e o documento do Acnur alerta para uma tendência de aceleração
rápida deste fenômeno. Com exceção de Quênia, Egito e Indonésia, os 10 maiores
escritórios do Acnur registraram aumento de pedido de asilo de 2012 a 2014.
O
Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, criticou a abordagem
da comunidade internacional para o fenômeno. "De um lado, há mais e mais
impunidade para os conflitos que se iniciam, de outro, há uma absoluta
inabilidade da comunidade internacional em trabalhar unida para encerrar as
guerras e construir uma paz perseverante", declara Guterres no relatório.
Em
2014, uma média de 42,5 mil pessoas por dia se tornaram refugiadas, requerentes
de asilo ou deslocadas internas – o quádruplo do registrado há apenas quatro
anos. Segundo o relatório, uma em cada 122 pessoas no mundo é afetada. Nos
últimos 20 anos, 18,2 milhões de pessoas retornaram a seus países de origem.
O
Acnur destaca que, nos últimos cinco anos, pelo menos 15 conflitos se iniciaram
ou foram retomados: oito na África, três no Oriente Médio, um na Europa, e três
na Ásia. Tal fator contribui fundamentalmente para o aumento do número de
refugiados. Em 2014, apenas 126,8 mil refugiados conseguiram retornar para seus
países de origem – o menor número em 31 anos.
A
tendência de crescimento no número de refugiados tem sido verificada desde
2011, com a guerra na Síria. Para o Acnur este conflito se tornou "o maior
evento individual causador de deslocamento no mundo". O organismo da ONU
diz que o fenômeno gerou nos últimos anos uma "nação de deslocados",
com população equivalente à da Itália ou do Reino Unido.
Crianças
são as mais atingidas
A
edição deste ano do "Tendências Globais" mostra que metade dos
refugiados no mundo são crianças e jovens de até 18 anos. Conforme o documento,
foram contabilizados 19,5 milhões de refugiados menores de idade em todo mundo
(acima dos 16,7 milhões de 2013), além de 38,2 milhões de deslocados dentro de
seus próprios países (contra 33,3 milhões em 2013) e 1,8 milhão de requerentes
de asilo (em comparação com 1,2 milhão em 2013).
Num
comunicado divulgado à imprensa, Guterres critica a falta de financiamento e
falhas no regime global de proteção às vítimas. "Para uma época de
deslocamento massivo sem precedentes, necessitamos de uma resposta humanitária
também sem precedentes", disse o Alto Comissário.
Atualmente,
a Síria tem a maior população de deslocados internos – 7,6 milhões – e é o
principal país de origem de refugiados – 3,88 milhões ao final de 2014. O
Afeganistão e a Somália vêm em seguida, sendo os países de origem de 2,59
milhões e 1,1 milhão de refugiados, respectivamente.
O
relatório aponta que 86% dos refugiados estão em regiões consideradas
economicamente menos desenvolvidas. Turquia, Paquistão, Líbano, Irã, Etiópia e
Jordânia são os países que mais recebem refugiados no mundo.
Aumento
contínuo nas Américas
Nas
Américas houve crescimento em 5% no deslocamento forçado, atingindo 769 mil
pessoas. O Brasil abriga, conforme o relatório, 7.490 refugiados e tem 11.216
pedidos de asilo pendentes. Outras 29 mil pessoas são motivo de preocupação
para o Acnur no território brasileiro, totalizando 47.946 mil pessoas afetadas.
A
Colômbia continua abrigando uma das maiores populações de deslocados internos
no mundo, com cerca de 6 milhões de pessoas reportadas até o final de 2014. Só
no ano passado 137 mil colombianos foram deslocados.
Os
Estados Unidos receberam, em 2014, 36,8 mil pedidos de refúgio a mais do que o
registrado em 2013 – um aumento de 44%. O relatório conclui que isto se deve,
entre outros fatores, à violência de gangues urbanas na América Central.
Europa
tem maior crescimento
A
Europa apresentou crescimento de 51% no número de deslocados. Foram 6,7 milhões
de refugiados registrados no final de 2014 contra 4,4 milhões no ano anterior.
Para o Acnur, a intensificação do fenômeno no continente se deve ao conflito na
Ucrânia, à travessia recorde do Mediterrâneo – que chegou a 219 mil pessoas – e
ao grande número de refugiados sírios na Turquia.
A
Suécia e a Alemanha são os países europeus que receberam a maioria das
solicitações de asilo. Quase 25% da população refugiada na Europa em 2014 é
composta por sírios na Turquia.
De
acordo com o texto, a região do Oriente Médio e do Norte da África teve
crescimento de 19%. A guerra na Síria tornou o Oriente Médio a principal região
de origem e recebimento de populações deslocadas por conflitos e perseguições.
Um
dos principais exemplos é o Iraque, que sofre uma nova onda de deslocamentos
internos devido às ações da milícia terrorista "Estado Islâmico". De
acordo com o relatorio, 2,6 milhões de pessoas foram atingidas em 2014.
A
África Subsaariana (excluindo a Nigéria, que teve critérios específicos de
análise) verificou crescimento de 17%. No total, a região tem 3,7 milhões de
refugiados e 11,4 milhões de deslocados internos. A África do Sul se destaca
como o país nesta região que mais recebe pedidos de asilo.
Na
Ásia o número de deslocados aumentou em 31% em 2014, chegando a 9 milhões de
pessoas.
Marcio
Pessoa – Deutsche Welle
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