Hong
Kong, China, 19 jun (Lusa) -- Deputados pró-governo que abandonaram o Conselho
Legislativo (LegCo) antes da votação da proposta de reforma política em Hong Kong passaram as
últimas 24 horas a tentar explicar a sua atitude, um embaraço que já causou lágrimas.
A
imprensa de Hong Kong refere que o objetivo da saída de mais de 30 deputados
pró-Governo momentos antes da votação era o de inviabilizar o quórum e dar
tempo para um colega da mesma ala, que estava atrasado (Lau Wong-fat), chegar
ao LegCo e poder votar. Acontece que na sala ficaram deputados suficientes para
a realização da votação e a mesma acabou por ser levada a cabo na ausência de
muitos parlamentares.
A
proposta de lei da reforma eleitoral apresentada pelo Governo de Hong Kong ao
LegCo e apoiada por Pequim foi rejeitada, ao segundo dia de debate, com 28
votos contra -- todos os 27 da ala pró-democracia mais o médico e deputado
pró-sistema Leung ka-lau -- e oito a favor (dos deputados pró-Governo que
permaneceram na sala).
A
votação traduziu-se numa situação embaraçosa para os parlamentares que ao longo
dos últimos 20 meses se mantiveram alinhados com a posição de Pequim e na
quinta-feira acabaram por não votar.
Os
27 deputados da ala pró-democrática tinham anunciado semanas antes que iriam
votar contra a proposta, por considerarem que não permitia uma real democracia.
A reforma eleitoral precisava do apoio de dois terços da câmara composta por 70
membros para ser aprovada, o que significava que pelo menos quatro membros dos
grupos liberais tinham de a apoiar, mas a saída em bloco dos deputados
pró-Governo foi uma surpresa até para os pró-democratas que ridiculizaram o
alegado desconhecimento das regras de procedimento do LegCo por parte do campo
pró-Pequim.
Hoje
a presidente do pró-Pequim Novo Partido do Povo, Regina Ip, chorou durante uma
entrevista ao recordar o momento da saída antes da votação.
Por
sua vez, o deputado Wong Kwok-kin, da Hong Kong Federation of Trade Unions,
disse que quem teve a ideia do abandono do LegCo deveria assumir a responsabilidade.
Citado pelo South China Morning Post, Wong Kwok-kin descreveu a cena como
"um erro estúpido que certamente iria enfurecer Pequim".
Já
o presidente do DAB (Aliança Democrática para a Melhoria e Progresso de Hong
Kong, pró-Pequim), Tam Yiu-chung, afirmou que era "uma grande lição"
a aprender, mas acrescentou que foi Jeffrey Lam, da Business and Professionals
Alliance, que liderou a saída.
Jeffrey
Lam desfez-se em lágrimas ao pedir desculpas aos colegas de bancada pró-governo
e à população de Hong Kong, justificando que a atitude resultou de uma falha de
comunicação.
Isto
depois de na quinta-feira, Ip Kwok-him, deputado do DAB, ter dito que a saída
do LegCo antes da votação foi ideia sua e que assumia a responsabilidade pelo
facto de mais de 30 deputados não terem votado.
A
China concordou com a eleição do chefe do executivo de Hong Kong por sufrágio
direto, mas impôs que os "dois ou três" únicos candidatos fossem
previamente aprovados por um Comité de Nomeação de 1.200 pessoas, o que para os
partidos democráticos do território é "uma limitação à democracia".
Hong
Kong foi integrado na Republica Popular da China em julho de 1997, segundo a
fórmula "um país, dois sistemas", que permite a continuação por mais
50 anos do "modo de vida" do território, nomeadamente as liberdades
de imprensa e de associação, desconhecidas no resto do país.
Até
à data, o chefe do Governo do território tem sido escolhido por um comité
eleitoral composto maioritariamente por personalidades consideradas
"patriotas" e não hostis à política do Partido Comunista Chinês.
FV
(AC/ISG) // VM - foto SCMP Pictures
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