domingo, 7 de junho de 2015

Primeira exposição em Pequim do artista dissidente Ai Weiwei abriu em clima de romaria


Pequim, 07 jun (Lusa) - Centenas de pessoas acorreram no sábado à abertura da primeira exposição em Pequim de Ai Weiwei, um dos artistas plásticos chineses mais conhecidos internacionalmente e um crítico do Partido Comunista Chinês.

Mais do que a obra exposta - uma instalação que ocupa o espaço de duas galerias e que reproduz um antigo templo construído em madeira - a grande atração foi o próprio Ai Weiwei, que apareceu no local, de calções e sapatos de pano.

Durante mais de duas horas, distribuiu autógrafos e deixou-se fotografar com toda a gente, incluindo outros artistas, que lhe pedia para fazer uma 'selfie' ao seu lado. Às vezes, passavam-lhe o 'smartphone' para a mão e era ele que carregava no botão.

Um dos artistas que compareceu - e que se fez fotografar com Ai Weiwei - foi o compositor Tan Dun, o único músico chineses a ganhar um Óscar para a melhor banda sonora, em 2000, com o filme "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee.

À entrada das duas galerias - a Galleria Continua e a Tang Contemporary Art, no distrito artístico "798", nordeste de Pequim - eram servidas bebidas e pequenos e coloridos bolos tradicionais, acentuando a atmosfera de romaria.

"Vejo sempre a minha vida como um espetáculo", disse Ai Weiwei numa entrevista difundida na semana passada pela edição local da revista Time Out.

A própria instalação, dividida por dois espaços, parece favorecer mais o contexto social do que o visual.

"Estava à espera de uma 'coisa' politicamente mais subversiva", disse um antigo diplomata europeu acerca da exposição.

A informação distribuída pelas galerias evoca a "liberdade intelectual praticada" por Ai Weiwei mas não menciona os seus frequentes confrontos com as autoridades chinesas.

Ai Weiwei "é um homem para quem a arte é uma forma de viver que está inseparavelmente ligada com as reais circunstâncias do seu tempo", assinala a informação.

Várias galerias chinesas têm apresentado obras de Ai Weiwei, mas esta exposição individual, que estará patente até 06 de setembro, é a primeira do género, inteiramente concebida e organizada pelo artista na capital da China.

Filho do consagrado poeta Ai Qing (1910-1996), Ai Weiwei, 57 anos, viveu na década de 1980 nos Estados Unidos, sobretudo Nova Iorque, onde conheceu as obras e intervenções artísticas de Andy Warhol, Marcel Duchamp e outros grandes nomes das novas vanguardas.

Ai Weiwei foi consultor do atelier suíço que desenhou o Estadio Olímpico de Pequim, conhecido popularmente como "Ninho de Pássaro", mas recusou assistir à cerimónia de abertura dos Jogos, em agosto de 2008: "O governo quer usar estes Jogos para se celebrar a sai própria a si próprio e à sua politica. Não há nada a celebrar", disse então o artista.

Quando lhe perguntaram por que razão ainda não tinha sido preso, respondeu: "Também me ponho essa questão".

"Talvez seja por estar só. Não pertenço a nenhum grupo político e estou bastante fora do sistema", acrescentou.

Enganou-se: Ai Weiwei foi detido no aeroporto de Pequim em abril de 2011, quando pretendia embarcar para Hong Kong, e posteriormente acusado de evasão fiscal.

Quatro anos depois, continua impedido de viajar para fora da China.

Há cerca de duas semanas, perguntaram-lhe o que faria se as autoridades lhe devolvessem o passaporte: "Iria ver se ainda estava válido", respondeu.

Contudo, Ai Weiwei acredita que o futuro será melhor e que "a internet criou um espaço publico e desenvolveu uma pressão que o governo já não pode ignorar".

"A China está a mudar. A sociedade chinesa está a abrir-se", afirmou Ai Weiwei numa entrevista difundida no dia 20 de maio passado pela revista alemã Spiegel.

AC // DM.

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