Pequim,
07 jun (Lusa) - Centenas de pessoas acorreram no sábado à abertura da primeira
exposição em Pequim de Ai Weiwei, um dos artistas plásticos chineses mais
conhecidos internacionalmente e um crítico do Partido Comunista Chinês.
Mais
do que a obra exposta - uma instalação que ocupa o espaço de duas galerias e
que reproduz um antigo templo construído em madeira - a grande atração foi o
próprio Ai Weiwei, que apareceu no local, de calções e sapatos de pano.
Durante
mais de duas horas, distribuiu autógrafos e deixou-se fotografar com toda a
gente, incluindo outros artistas, que lhe pedia para fazer uma 'selfie' ao seu
lado. Às vezes, passavam-lhe o 'smartphone' para a mão e era ele que carregava
no botão.
Um
dos artistas que compareceu - e que se fez fotografar com Ai Weiwei - foi o
compositor Tan Dun, o único músico chineses a ganhar um Óscar para a melhor
banda sonora, em 2000, com o filme "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee.
À
entrada das duas galerias - a Galleria Continua e a Tang Contemporary Art, no
distrito artístico "798", nordeste de Pequim - eram servidas bebidas
e pequenos e coloridos bolos tradicionais, acentuando a atmosfera de romaria.
"Vejo
sempre a minha vida como um espetáculo", disse Ai Weiwei numa entrevista
difundida na semana passada pela edição local da revista Time Out.
A
própria instalação, dividida por dois espaços, parece favorecer mais o contexto
social do que o visual.
"Estava
à espera de uma 'coisa' politicamente mais subversiva", disse um antigo
diplomata europeu acerca da exposição.
A
informação distribuída pelas galerias evoca a "liberdade intelectual
praticada" por Ai Weiwei mas não menciona os seus frequentes confrontos
com as autoridades chinesas.
Ai
Weiwei "é um homem para quem a arte é uma forma de viver que está
inseparavelmente ligada com as reais circunstâncias do seu tempo",
assinala a informação.
Várias
galerias chinesas têm apresentado obras de Ai Weiwei, mas esta exposição
individual, que estará patente até 06 de setembro, é a primeira do género,
inteiramente concebida e organizada pelo artista na capital da China.
Filho
do consagrado poeta Ai Qing (1910-1996), Ai Weiwei, 57 anos, viveu na década de
1980 nos Estados Unidos, sobretudo Nova Iorque, onde conheceu as obras e
intervenções artísticas de Andy Warhol, Marcel Duchamp e outros grandes nomes
das novas vanguardas.
Ai
Weiwei foi consultor do atelier suíço que desenhou o Estadio Olímpico de
Pequim, conhecido popularmente como "Ninho de Pássaro", mas recusou
assistir à cerimónia de abertura dos Jogos, em agosto de 2008: "O governo
quer usar estes Jogos para se celebrar a sai própria a si próprio e à sua
politica. Não há nada a celebrar", disse então o artista.
Quando
lhe perguntaram por que razão ainda não tinha sido preso, respondeu:
"Também me ponho essa questão".
"Talvez
seja por estar só. Não pertenço a nenhum grupo político e estou bastante fora
do sistema", acrescentou.
Enganou-se:
Ai Weiwei foi detido no aeroporto de Pequim em abril de 2011, quando pretendia
embarcar para Hong Kong, e posteriormente acusado de evasão fiscal.
Quatro
anos depois, continua impedido de viajar para fora da China.
Há
cerca de duas semanas, perguntaram-lhe o que faria se as autoridades lhe
devolvessem o passaporte: "Iria ver se ainda estava válido",
respondeu.
Contudo,
Ai Weiwei acredita que o futuro será melhor e que "a internet criou um
espaço publico e desenvolveu uma pressão que o governo já não pode
ignorar".
"A
China está a mudar. A sociedade chinesa está a abrir-se", afirmou Ai
Weiwei numa entrevista difundida no dia 20 de maio passado pela revista alemã
Spiegel.
AC
// DM.
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