Beatriz
Gamboa
Aprender e falar
português em Timor-Leste está a ter uma evolução lenta, tal facto não se deve
somente à ocupação indonésia mas também ao período colonialista português,
sendo essa uma realidade muitas vezes escamoteada.
Durante
o período em que Timor-Leste foi colónia de Portugal era frequente encontrarmos
inúmeros timorenses que não dominavam a língua portuguesa, pronunciavam umas
quantas palavras em português mas na conversação saíam fora do contexto,
recorrendo então ao tétum e à mímica. “Não falo português (la koalia português)
era resposta frequente escutada por militares e outros portugueses que em
Timor-Leste interpelavam timorenses. Principalmente no interior do país.
É
certo que existiam algumas escolas. Os próprios militares davam aulas de
português aos habitantes de localidades remotas do interior. Também a igreja
teve um desempenho importante nessa disciplina, contudo nem a 50 por cento da
população chegou com o ensino do português. Talvez um pouco mais a partir de
1967.
A
integração de timorenses no exército português também teve importância para o
desenvolvimento da língua colonial, pelo menos para a prática da língua. Mas os
timorenses entre eles, mesmo no exército, falavam com fluência a sua língua
materna, única e exclusivamente.
No
exército de segunda linha, só constituído por timorenses, principalmente
colocado nas zonas fronteiriças, raramente esses militares de refugo sabiam
português, excepto o comandante e um ou outro oficial.
O
português era falado pelos timorenses com maior vulgaridade somente nas
principais cidades, com destaque para a capital, Dili. Não se queira por isso,
presentemente, que os timorenses, em número considerável, falem português de um
dia para o outro. Considerando o historial colonial e respectivas limitações no
ensino do português, agravado pela ocupação indonésia por mais de duas décadas,
em que a língua portuguesa era proibida, a evolução do português falado pelos
timorenses já atingiu números consideráveis. As novas gerações (juvenis) já
dominam melhor o português que nos anos do colonialismo, apesar de se
expressarem quotidianamente na língua regional materna e na oficial, o tétum. Acontece
por todo o país e não somente na capital ou em algumas das principais cidades.
Na
actualidade o esforço no ensino do português em Timor-Leste esbarra em
pormenores que se poderiam classificar de xenófobos mas também em resistências
de pessoas ao serviço do lobie anglófono, principalmente norte-americanos e
australianos. Lobie que tem contaminado alguns agentes dos governos e
professores timorenses. A constatação de carências em manuais escolares e no
correcto conhecimento da língua por parte de professores timorenses tem também contribuído
para que o ensino e a aprendizagem do português não atinjam valores percentuais
mais alargados. O esforço para o registo de melhorias está a ser feito com o
empenho do atual governo. Não é o suficiente mas é evidente. Também o PR Taur
vai fazendo o possível por acompanhar a situação no setor da educação e até as
pressões necessárias para a incrementação de que o ensino do português seja mais
efetivo.
Num
curto artigo da página online da Rádio e Televisão de Timor-Leste podemos
inteirar-nos da opinião de uma técnica portuguesa sobre o tema. Cláudia
Taveira, formadora de Língua Portuguesa na RTTL, inscreveu há cerca de dois
anos, no site da RTTL, o texto que a seguir incluímos.
PRATICANDO PORTUGUÊS
“Trabalhar
em português num contexto linguístico como o de Timor Leste implica
saber que língua oficial não é sinónimo de língua materna. Embora o português
seja uma das línguas oficiais de Timor Leste, não é a língua materna da
esmagadora maioria dos timorenses. O português não é, para muitos, a primeira
língua ou a língua da família ou do dia a dia. A língua portuguesa em Timor
Leste é língua de escolarização e tem um estatuto sociopolítico privilegiado,
devendo, portanto, ser encarada e trabalhada como uma língua segunda.
Cheguei
a Timor Leste em 2002. A minha primeira experiência foi numa escola
pré-secundária. Os alunos sabiam pouco mais do que apresentar-se em português.
Era difícil comunicar e as condições da escola (da minha e de muitos outros
professores portugueses) não ajudavam. As turmas de 50 alunos tinham apenas uma
aula de duas horas semanais para aprenderem português. Não havia manuais nem
fotocópias: tudo era escrito no quadro. Em 2013, a realidade da língua
portuguesa é diferente. Os ex-alunos que vim encontrar na RTTL mostram-me que o
português está bem longe do ponto de partida em que se encontrava há uns anos.
É óbvio que ainda há muito caminho a percorrer. Falo dos constrangimentos à
divulgação de uma língua num país ainda em construção, mas também das naturais
dificuldades de quem usa, como ferramenta de trabalho, um idioma que não é a
sua língua materna. O “Praticando Português” nasce da observação que fui
fazendo dos problemas linguísticos de jornalistas e tradutores da RTTL.
Não
se aprende apenas numa sala de aula. A autonomia dos indivíduos é cada vez mais
valorizada na aprendizagem. Segundo Meighan e Roberts (1986), a aprendizagem
autónoma assenta, entre outros, no reconhecimento do dinamismo do conhecimento,
no papel ativo do aprendente e na diversificação de recursos para aprender.
Esta autonomia é igualmente referida por Vieira e Moreira (1993), que, no que
toca às línguas estrangeiras, defendem, além da competência comunicativa, o
desenvolvimento de competências de aprendizagem.
As
tecnologias constituem-se hoje como grandes impulsionadoras da aprendizagem
autónoma. Grande parte dos materiais interativos do “Praticando Português” foi
construída através do programa Hot Potatoes. Esta ferramenta da Web 2 é
de fácil uso e permite que os aprendentes recebam um feedback do seu
trabalho. Além destes exercícios interativos, foram colocados recursos do
Portal das Escolas (www.portaldasescolas.pt). Os utilizadores poderão praticar
o léxico, gramática, compreensão do oral e da leitura. Todas as tarefas são
organizadas de acordo com o grau de dificuldade. São ainda disponibilizados
endereços de média lusófonos para consulta. Importa referir que o
"Praticando Português" ainda se encontra em construção, pelo que os
seus conteúdos serão semanalmente atualizados.
Cláudia
Taveira,
Formadora
de Língua Portuguesa na RTTL no âmbito do Projeto de Apoio à Comunicação
Social.
Meighan
e Roberts (1986). Sociology of Education. London: Cassel Education.
Vieira,
Flávia e Maria Alfredo Moreira (1993), Para além dos testes…A avaliação
Processual na Aula de Inglês. Instituto de Educação, Braga: Universidade do
Minho.
Sem comentários:
Enviar um comentário