Lisboa,
12 nov (Lusa) - Dois ataques a antigas colónias portuguesas, em diferentes
continentes, separados por 20 anos, foram encarados pelo regime de Oliveira
Salazar com idêntico "imobilismo e incúria", acusa um historiador
militar, no seu mais recente livro.
Em
dezembro de 1941, tropas australianas e holandesas invadiram a então colónia
portuguesa de Timor, com a justificação de afastarem a ameaça japonesa sobre
aquele território. E quando, vinte aos depois, começou a guerra contra a
presença portuguesa em Angola, António de Oliveira Salazar, então Presidente do
Conselho, respondeu como tinha feito para Timor em 1941 - reagiu
"mal" e sem eficácia.
"Houve
imobilismo e incúria em ambos os casos", conclui o coronel na reserva
David Martelo, no seu mais recente livro, "A Imprevidência estratégica de
Salazar", que será lançado este mês em Lisboa.
"Há
claros avisos que havia problemas [em Timor e em Angola], há relatórios de
governadores, e é curioso que Salazar, ainda em 1960, tenha feito um discurso
muito tétrico no qual alertava para a necessidade de se verter sangue",
disse o autor à agência Lusa.
"Mas
ele nunca reagiu a esses avisos", concluiu David Martelo.
O
autor defende que a falta de transparência e a ditadura em que o país vivia
permitiram que este tipo de atuação tivesse passado despercebido e sem
consequências.
"Num
país democrático, qualquer um destes dois casos seria um verdadeiro
escândalo", considerou Martelo, que exemplifica o cenário com uma
interrogação numa carta que o então ministro da Defesa, Santos Costa, enviou a
Salazar: "O que pensará de nós amanhã a Nação, quando souber a verdade,
toda a verdade?".
No
fundo, resume o historiador, "o grande amor de Salazar pelo Império tinha
um grande rival, que era o Orçamento".
Isso,
diz, explica a razão por que tanto em Timor, em 1941, como em Angola, em 1961,
não havia praticamente meios militares que assegurassem uma defesa mínima
daquelas duas colónias.
David
Martelo, 69 anos, é coronel do exército na reforma, tendo participado no
movimento dos capitães que deu origem ao 25 de Abril de 1974. Publicou, entre
outros, os livros "O Exército Português na Fronteira do Futuro" e
"O Cerco do Porto".
LAS
// MAG
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