sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Livro analisa "imobilismo" de Salazar em Timor e Angola


Lisboa, 12 nov (Lusa) - Dois ataques a antigas colónias portuguesas, em diferentes continentes, separados por 20 anos, foram encarados pelo regime de Oliveira Salazar com idêntico "imobilismo e incúria", acusa um historiador militar, no seu mais recente livro.

Em dezembro de 1941, tropas australianas e holandesas invadiram a então colónia portuguesa de Timor, com a justificação de afastarem a ameaça japonesa sobre aquele território. E quando, vinte aos depois, começou a guerra contra a presença portuguesa em Angola, António de Oliveira Salazar, então Presidente do Conselho, respondeu como tinha feito para Timor em 1941 - reagiu "mal" e sem eficácia.

"Houve imobilismo e incúria em ambos os casos", conclui o coronel na reserva David Martelo, no seu mais recente livro, "A Imprevidência estratégica de Salazar", que será lançado este mês em Lisboa.

"Há claros avisos que havia problemas [em Timor e em Angola], há relatórios de governadores, e é curioso que Salazar, ainda em 1960, tenha feito um discurso muito tétrico no qual alertava para a necessidade de se verter sangue", disse o autor à agência Lusa.

"Mas ele nunca reagiu a esses avisos", concluiu David Martelo.

O autor defende que a falta de transparência e a ditadura em que o país vivia permitiram que este tipo de atuação tivesse passado despercebido e sem consequências.

"Num país democrático, qualquer um destes dois casos seria um verdadeiro escândalo", considerou Martelo, que exemplifica o cenário com uma interrogação numa carta que o então ministro da Defesa, Santos Costa, enviou a Salazar: "O que pensará de nós amanhã a Nação, quando souber a verdade, toda a verdade?".

No fundo, resume o historiador, "o grande amor de Salazar pelo Império tinha um grande rival, que era o Orçamento".

Isso, diz, explica a razão por que tanto em Timor, em 1941, como em Angola, em 1961, não havia praticamente meios militares que assegurassem uma defesa mínima daquelas duas colónias.

David Martelo, 69 anos, é coronel do exército na reforma, tendo participado no movimento dos capitães que deu origem ao 25 de Abril de 1974. Publicou, entre outros, os livros "O Exército Português na Fronteira do Futuro" e "O Cerco do Porto".

LAS // MAG

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