Pequim,
04 jan (Lusa) -- As autoridades chinesas garantiram hoje nada saber sobre o
desaparecimento de Lee Bo, responsável de uma livraria de Hong Kong que,
segundo o deputado Albert Ho, estava a preparar uma obra sobre a vida amorosa
do Presidente chinês.
Hua
Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, assegurou
hoje em conferência de imprensa "não estar ao corrente" da situação
do livreiro desaparecido e afirmou carecer de informação para oferecer a esse
respeito.
O
caso de Lee Boo, de 65 anos, visto pela última vez na quarta-feira, não é o
único em Hong Kong, já que terá acontecido o mesmo a outros quatro livreiros --
que também trabalham na Causeway Books ou na casa editora associada, a Mighty
Current --, o que desencadeou a suspeita na antiga colónia britânica de que os
desaparecimentos têm 'mão' de Pequim.
À
suspeita juntam-se as declarações do deputado democrata e advogado Albert Ho,
citadas pelo jornal South China Morning Post, de que os cinco livreiros
preparavam um livro sobre a vida amorosa de Xi Jinping, em concreto sobre uma
namorada antiga.
Albert
Ho, deputado do Partido Democrata e reconhecido advogado dos direitos humanos
(defendeu nomeadamente o ex-técnico da CIA Edward Snowden durante a sua estadia
em Hong Kong) ligou a preparação do livro sobre Xi ao desaparecimento dos cinco
livreiros.
O
Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anticorrupção para
punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são
considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns
publicados nas obras que a livraria Causeway Books e que estão proibidas na
China, pelo que são populares entre muitos turistas que visitam Hong Kong.
A
mulher de Lee Bo afirmou que o marido lhe telefonou a partir da cidade vizinha
de Shenzhen na noite em que desapareceu, tendo-lhe dito que "estava a
colaborar com a investigação" relativa aos colegas desaparecidos, e achou
estranho que tenha falado em mandarim em vez de cantonês (falado em Hong Kong),
tendo reportado o seu desaparecimento à polícia na sexta-feira.
O
chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, afirmou hoje, em conferência de
imprensa, que seria inaceitável que as agências de segurança da China
estivessem a operar na antiga colónia britânica, já que a única autoridade
legal é a polícia de Hong Kong, e manifestou-se "muito preocupado"
com a série de desaparecimentos.
Os
outros desaparecidos, além de Lee Bo, são o editor com passaporte sueco Gui
Minhai (desaparecido numa viagem à Tailândia), o gerente geral do
estabelecimento, Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e um
funcionário, Zhang Zhiping.
Estes
desaparecimentos levaram mais de meia centena de pessoas, incluindo deputados,
a manifestarem-se no domingo em frente ao Gabinete de Ligação da China em Hong
Kong, num protesto em que exigiram a Pequim informações sobre o paradeiro dos
cinco livreiros e uma investigação ao sucedido.
O
jornal oficial chinês Global Times publicou hoje um artigo em forma de
comentário em que advertia contra a tentação de se cair em especulações sobre
estes desaparecimentos.
DM
// APN
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