Díli,
22 mar (Lusa) - Milhares de pessoas manifestaram-se hoje junto à embaixada da
Austrália em Díli para pedir a delimitação de fronteiras marítimas com
Timor-Leste, naquela que foi provavelmente a maior manifestação no país após a
independência, segundo um organizador.
Mais
de dez mil ativistas, estudantes e antigos membros da resistência timorense
manifestaram-se junto à embaixada da Austrália na capital de Timor-Leste, disse
à AFP um dos coordenadores do protesto, Juvinal Dias, do Movimento Contra a Ocupação
do Mar de Timor.
"Esta
é provavelmente a maior manifestação a que já assistimos desde a declaração da
independência", disse Juvinal Dias, que assegurou que o protesto foi
organizado pela população, "não pelo Governo".
Juvinal
Dias disse que os manifestantes querem que a Austrália respeite a lei
internacional e regresse à mesa das negociações das fronteiras marítimas com
"boa fé".
Representantes
dos manifestantes pediram para ser recebidos pelo embaixador australiano ou por
outros diplomatas, mas a solicitação foi recusada, pelo que deixaram uma carta
na Embaixada.
A
29 de fevereiro, o primeiro-ministro timorense revelou que o Governo
australiano não está aberto a negociar com Timor-Leste sobre fronteiras
marítimas e insiste que o atual acordo de partilha de recursos no Mar de Timor
cumpre as obrigações internacionais.
Rui
Maria Araújo disse à Lusa que essa é a posição que o seu homólogo australiano,
Malcolm Turnbull, lhe transmitiu numa carta de resposta a um pedido timorense
para serem iniciadas negociações.
"Mantém
a posição sobre a partilha de recursos, que está a ser feita através do CMATS
[Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor]", disse.
O
CMATS foi assinado entre Díli e Camberra, mas Timor-Leste declarou-o inválido
devido a atividades de espionagem por parte da Austrália.
Esse
acordo prevê que os 'royalties' e outras receitas da zona abrangida, incluindo
o rico campo de gás natural Greater Sunrise, sejam divididos em partes iguais
entre os dois países. Caso uma fronteira marítima seja definida, esse campo
poderia ficar totalmente em águas timorenses.
Apesar
da posição australiana, Rui Araújo mostrou-se "confiante", afirmando
que Timor-Leste vai "tentar todos os meios" para levar Camberra
"à mesa das negociações".
No
mesmo dia, num discurso, Rui Araújo sublinhou que a delimitação das fronteiras
marítimas de Timor-Leste com os seus dois vizinhos, a Austrália e a Indonésia,
não corresponde a qualquer objetivo de partilha de recursos.
"Falamos
de fronteiras definidas, e a cada parte cabe os seus recursos. Isto tem de
ficar claro", disse.
"Delimitar
não é procurar a partilha de recursos. Isso não é a questão. A questão é de
soberania", sublinhou, acusando a Austrália de querer impor a Timor-Leste
a partilha de recursos.
MP
(ASP) // JPF
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