Macau,
China, 26 mar (Lusa) -- Na Igreja de Santo António, em Macau, cidade onde
apenas 5% da população é católica, uma missa semanal em coreano serve a
comunidade residente, mas também turistas e peregrinos devotos a André Kim
Taegon, santo e mártir da Coreia.
A
presença de padres coreanos em Macau é a retribuição de um favor antigo, conta
à Lusa o pároco da Igreja, Lee In Ho. Em 1837, o jovem André Kim Taegon veio
para a cidade, berço do catolicismo na Ásia, estudar Teologia.
Mais
de um século depois, em 2006, o então bispo de Macau, José Lai, deslocou-se à
Coreia do Sul para pedir à Congregação Clerical dos Beatos Mártires da Coreia
que enviasse padres de dada a falta de sacerdotes no sul da China.
"Na
altura, quando o Santo André veio para Macau, a diocese estava aberta a ajudar.
Agora foi ao contrário, havia falta de vocação e lá há muita vocação. Agora
ajudamos, é ao contrário", explicou, referindo-se ao primeiro dos 103
mártires coreanos, vítimas de perseguição religiosa no seu país.
Hoje,
a Igreja de Santo António, uma das mais antigas da cidade, ministra a única
missa semanal em coreano em Macau, uma das quatro línguas usadas regularmente
pela Igreja no território - as outras são português, chinês e inglês.
A
missa em coreano é ministrada para três dezenas de fiéis residentes e para os
muitos turistas e peregrinos que visitam a cidade, atraídos pela ligação ao
primeiro sacerdote e missionário de etnia coreana e primeiro mártir coreano,
que viveu seis anos em Macau.
No
Jardim de Camões, junto à Igreja onde André Kim Taegon, decapitado aos 25 anos,
foi fiel, ergue-se hoje uma estátua sua. Lee In Ho, que adotou também o nome
português Pedro, recebe entre 20 a 30 fiéis residentes, incluindo
norte-coreanos, aos sábados, quando, pelas 16:00, decorre a missa em coreano.
"Trabalham
no turismo, nos hotéis, nos restaurantes. Alguns trabalham em Zhuhai [cidade
chinesa adjacente a Macau] e vêm de propósito a Macau para a missa",
descreve.
As
cerimónias em coreano começaram em 2009, para servir os residentes e dar resposta
às frequentes visitas de turistas e peregrinos.
"As
peregrinações podem trazer até 50 pessoas. Há todos os meses, às vezes até dois
grupos por dia. A igreja é muito usada, Santo António tem muito significado
para os coreanos", explica o pároco, de 44 anos.
Três
sul-coreanos trabalham nesta igreja, dois padres e um irmão. Todos aprendem
português, mas Lee, por ser o pároco e ter mais trabalho, ainda só sabe rezar a
missa.
Quando
José Lai se deslocou à Coreia "só falou do chinês, disse que era o mais importante
[de aprender], não falou de outra língua". Chegado a Macau, após dois anos
a estudar chinês em Hong Kong, Lee, então vigário, percebeu que "tinha de
aprender pelo menos a rezar a missa em português".
"Ninguém
me tinha dito que a paróquia de Santo António tinha uma forte presença
portuguesa", recorda.
Foi
Arlete, tradutora reformada e voluntária na igreja, quem lhe ensinou o que sabe
do idioma e lhe corrige a pronúncia na homilia, servindo também de intérprete
quando necessário.
"Por
agora é mais leitura [que treinamos], batismos, exéquias, bênçãos de óleo,
funerais. Ele tem bom ouvido", graceja Arlete, sublinhando que o
conhecimento de Latim dos padres ajuda na aprendizagem.
Oito
anos passados, Lee In Ho diz gostar de Macau, apesar de o impacto inicial ter
sido difícil.
"A
primeira coisa que notei foi a humidade e muito calor. Pensei 'Como é que o
Santo André aguentou seis anos em Macau?' Bom, se ele aguentou, eu também
aguento", recorda.
Hoje,
"se tivesse opção, gostava de ficar" mais tempo e a presença da
indústria do jogo é a única coisa que lhe faz "confusão".
Na
relação com os fiéis e na forma como encaram o catolicismo, identifica as
maiores diferenças entre portugueses e macaenses.
"A
relação de chineses e coreanos com a religião é muito semelhante. [Já] os
portugueses e macaenses, aqueles que conheço, têm grande dificuldade em seguir
os mandamentos: deviam ter só uma mulher mas têm várias, dizem que têm fé mas
divorciam-se e querem casar novamente, ter filhos, não pensam tanto na fé como
os coreanos", observa.
ISG//
PJA
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