Díli,
25 abr (Lusa) - Descontentamento entre alguns dos veteranos, dúvidas sobre o
processo formal de transição e críticas do atual comando estão a marcar o
processo de transição na liderança das forças de defesa de Timor-Leste
(-FFDTL), adiado desde outubro de 2015.
Fontes
das F-FDTL, do Governo, do Parlamento e da Presidência do Governo ouvidas pela
Lusa nas últimas semanas confirmam a tensão em torno a este processo, que
dividiu as forças políticas e as instituições do país.
Desde
setembro do ano passado, quando terminaram os mandatos dos atuais comandantes
das F-FDTL, o Presidente da República, Taur Matan Ruak, já anunciou duas
decisões diferentes, ambas polémicas, apesar de nenhuma ainda ter sido
formalmente aplicada.
A
09 de fevereiro, Taur Matan Ruak anunciou ter decidido exonerar o chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), o major-general Lere Anan
Timur, promovendo como seu sucessor o brigadeiro-general Filomeno da Paixão de
Jesus, até então número dois.
A
decisão acabou por não ser concretizada porque ia contra a proposta do Governo
- que defendia a extensão do mandato de ambos - causando tensão entre a
Presidência, o executivo e o Parlamento Nacional e levando mesmo a recursos do
Governo para o Tribunal de Recurso, que foram rejeitados.
Taur
Matan Ruak nunca formalizou a decisão e recebeu este mês nova proposta do
Governo, a de nomear o capitão-de-mar-e-guerra Donaciano Gomes (Pedro Klamar
Fuik) como chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) e o
coronel Calisto dos Santos (Coliati), como vice-CEMGFA.
Uma
decisão conjunta do Governo e da Presidência que marcava uma "transição
geracional" completa nas F-FDTL, apesar de Taur Matan Ruak reiterar que
preferia "uma transição mais gradual".
Apesar
do aparente consenso, dez dias depois da decisão continua sem haver data para a
tomada de posse.
A
15 de abril, a Presidência explicou que "os pormenores relativos à
promoção destes oficiais, bem como do chefe do Estado-Maior das F-FDTL e dos
comandantes das Componentes, à promoção honorífica e saída dos oficiais
atualmente em funções para a reforma e à organização da cerimónia oficial estão
ainda a ser finalizados entre os serviços da Presidência da República e do
Governo".
O
assunto poderá ser hoje analisado na reunião do Conselho Superior de Defesa
Nacional, que decorre na Presidência.
Lere,
que aquando da primeira decisão, praticamente não a comentou, tornou-se agora
uma das vozes mais críticas da opção do seu comandante supremo.
Em
declarações a jornalistas timorenses afirmou que não aceita abandonar o cargo,
que não concorda com a decisão e, em privado, garante que vai continuar no
cargo mais dois anos, pelo menos.
Outras
vozes no seio das F-FDTL questionam a transição geracional demasiado rápida na
estrutura de comando de uma organização militar ainda muito ligada ao historial
das forças de resistência à ocupação indonésia, as Falintil.
Questões
sobre a capacidade de liderança de Klamar Fuik, que tem menos antiguidade que o
seu número dois, Coliati, e até sobre o papel que o antigo comandante do
componente naval teve durante a crise política de 2006 marcam o debate entre os
veteranos timorenses.
Politicamente
todo este processo decorre num cenário de tensão também entre alguns dos
principais líderes do país, nomeadamente depois das críticas de Taur Matan Ruak
a Xanana Gusmão, atual ministro e líder histórico da resistência, e ao líder da
Fretilin, Mari Alkatiri.
Timor-Leste
tem marcadas eleições legislativas em 2017 e, tudo indica, Taur Matan Ruak
poderá candidatar-se a primeiro-ministro, apoiado pela nova formação política
registada no ano passado, o Partido de Libertação do Povo (PLP).
ASP
// MP
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