Díli,
25 abr (Lusa) - O ex-presidente timorense José Ramos-Horta apelou para que o
Governo australiano aceite os pedidos de Timor-Leste e acorde começar a
negociar as fronteiras marítimas permanentes entre os dois países.
"A
Austrália pode fazer mais e pode fazer melhor", escreve Ramos-Horta num
artigo publicado na imprensa australiana.
"A
Austrália tem travado qualquer tentativa da nossa parte de negociar as
fronteiras marítimas, recusando-se até agora, mesmo com o lançamento dos nossos
esforços de conciliação obrigatória sob auspícios das Nações Unidas. Poderia
evitar alargar isto ainda mais tempo, com custos para os dois lados, acordando
a negociar agora", escreve.
Recordando
que a disputa sobre as fronteiras entre os dois países remonta aos anos 60 do
século passado, Ramos-Horta insiste que Camberra não pode acusar Timor-Leste de
querer mudar as fronteiras, "porque não há fronteiras para mudar".
"A
Austrália, falando pelos dois países, diz que os atuais acordos estão a
funcionar. Timor-Leste falando por si próprio diz que os acordos atuais não
estão a funcionar", relembra.
O
líder histórico timorense relembra que a posição australiana no passado tem
sido de negociar em vez de litigar na resolução de debates fronteiriços com a
Nova Zelândia, Ilhas Salomão, Nova Caledónia, Papua Nova Guiné e Indonésia.
Por
isso, "porque não com Timor-Leste", questiona no artigo o facto da
Austrália se aproveitar da postura "talvez algo 'naïve' [ingénua]"
timorense de aceitar um acordo temporário, "de boa-fé" com confiança
de que Camberra apoiaria a tentativa timorense de trazer até ao país um
gasoduto do Mar de Timor.
E
acusa Camberra de querer repetir o que ocorreu nos campos de
Laminaria-Corallina que "a Austrália explorou totalmente" apesar dos
campos, se houvesse fronteiras, estarem em território timorense, "duas
vezes mais próximas de Timor-Leste do que da Austrália".
Ramos-Horta
relembra que o Governo australiano levou a cabo espionagem de Timor-Leste
durante as negociações dos atuais acordos temporários entre os dois países e
que o Governo timorense nem sequer pode recorrer a arbitragem internacional
porque a Austrália se retirou da jurisdição internacional nesta matéria.
"Permitido?
Sim, mas lamentável", escreve, afirmando que a Austrália deve acordar
negociar com Timor-Leste e assim dar novo folego ao desenvolvimento de projetos
de petróleo e gás natural no Mar de Timor que continuam parados.
ASP
// MSF
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