Lisboa,
13 mai (Lusa) - O secretário-executivo da CPLP afirmou hoje que aceitaria um
novo Governo sem o partido vencedor das legislativas (PAIGC) se tal permitir
formar uma maioria estável e trazer paz e estabilidade, depois de o Presidente
guineense ter demitido o Governo.
Em
declarações à agência Lusa, Murade Murargy salientou que a exoneração decretada
quinta-feira por José Mário Vaz ao executivo liderado por Carlos Correia,
empossado em setembro de 2015, poderá levar a que a oposição do Partido da
Renovação Social (PRS) e os 15 deputados do Partido Africano da Independência
da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) - que se incompatibilizaram com a força política
vencedora das eleições legislativas de 2013 -, possam formar uma nova maioria
no Parlamento.
Murargy
salientou que tudo está em aberto, apesar de não se prever a realização de
novas eleições gerais no país (presidenciais e legislativas).
"Aparentemente,
há duas saídas: ou convida o PAIGC a formar novo Governo, e aí terá
dificuldades, ou então forma um Governo com uma nova maioria a constituir no
Parlamento, com base nos 15 deputados (do PAIGC) que foram reintegrados e o
PRS. Assim o Presidente teria base para formar novo Governo", disse.
Murargy
excluiu a possibilidade de o país ir novamente para eleições gerais (as últimas
foram a 13 de abril de 2014 e deram a maioria absoluta ao PAIGC, liderado por
Domingos Simões Pereira), uma vez que quer os Estados membros da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) quer os parceiros internacionais "não
estão disponíveis" para as financiar.
"O
Presidente (José Mário Vaz) quer evitar eleições. Quer formar um novo Governo,
porque sabe perfeitamente que, para novas eleições, agora, ninguém está
disponível para financiar. Pelo menos a nível da CPLP não há nenhum país que
esteja disposto a financiar eleições porque não temos capacidade para o
fazer", defendeu.
Questionado
pela Lusa sobre se, a haver eleições, ser grande a probabilidade de o PAIGC
voltar a ganhar as legislativas e de José Mário Vaz perder a presidência,
Murargy insistiu na "indisponibilidade" da comunidade internacional
as financiar.
"Isso
não sei. Os guineenses são quem tem de dizer isso. Eu não sei se (José Mário
Vaz) perderia ou ganharia, não sei, mas são os guineenses que têm de decidir.
Mas (a impossibilidade de realização das eleições) é do ponto de vista
financeiro. Não há condições. Os países da CPLP estão com imensas dificuldades
para poder dar um passo desses. Vamos aguardar, mais uma vez, o que vai
acontecer", respondeu.
Salientando
que segue "com muito interesse" o desenvolvimento político na
Guiné-Bissau - "cada dia nos surpreende com recuos" -, o
secretário-executivo da CPLP manifestou esperança de que a crise política não
descambe para a violência.
"Desde
que não haja escaramuças armadas, isso para nós é importante. Que haja diálogo
político, que se consigam entender e encontrar uma solução para o país",
realçou, admitindo que o representante especial da CPLP em Bissau, o diplomata
cabo-verdiano António Alves Lopes, "está muito apreensivo".
"(A
Guiné-Bissau) tem altos e baixos e esperemos que encontre uma saída, uma vez
que a comunidade internacional pode ficar cansada com esta situação, que não
conduz a que os guineenses tenham estado de espírito para desenvolver o
país", alertou.
JSD
// EL
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