Díli,
18 mai (Lusa) - Os resultados de um estudo que indica que quase 60% das
mulheres timorenses foram alvo de violência física ou sexual em Timor-Leste
exigem uma resposta integrada ao problema, disse à Lusa uma das responsáveis do
projeto.
Susan
Marx, responsável da Asia Foundation, a entidade que lidera o projeto Nabilan -
que conduziu o estudo sem precedentes em Timor-Leste - disse que não chega
"ficar chocado" com os "números estatísticos dramáticos" e
que é preciso "agir já".
"Temos
que trabalhar de forma integrada em todos os setores, promover uma ideia de
mudança de comportamento e ao mesmo tempo educar as pessoas sobre a lei",
explicou à Lusa.
"E
depois, de um lado temos as questões legais e jurídicas, mas do outro as de
comportamento, ou de aplicação", referiu.
Como
exemplo, recordou que pode conseguir que as pessoas denunciem mais os crimes,
mas que depois é preciso garantir que a vítima é protegida ao longo de todo o
processo.
"As
pessoas fazem queixa na polícia, mas depois quando chegam ao tribunal têm que
se sentar ao lado do autor do crime. Os tribunais não estão preparados para as
proteger, para dar a segurança e a dignidade necessária às vítimas",
considerou.
O
estudo mostra que três em cada cinco mulheres timorenses foram vítimas de
violência física ou sexual pelos seus parceiros, 14% foram violadas fora da
relação e 3% foram vítimas de violações coletivas.
Uma
em cada quatro mulheres (24%) e dois em cada cinco homens (42%) foram vítimas
de abuso sexual antes de cumprirem 18 anos e, globalmente, três em cada quatro
pessoas em Timor-Leste foram vítimas de alguma forma de violência ou abuso
físico antes dos 18 anos, refere-se no documento.
Igualmente
dramáticos são os dados sobre a perceção que os timorenses têm dessa violência,
já que dois terços das mulheres timorenses consideram que devem aguentar
violência dos maridos para manter a família junta e 81% vê justificado que o
companheiro lhes bata se não lhe obedecerem ou cumprirem bem as tarefas
domésticas.
A
maioria das mulheres (81%) e dos homens (79%) considera que um marido pode
bater à mulher em determinadas circunstâncias, "como quando ela lhe
desobedece, quando ela não completa satisfatoriamente o trabalho
doméstico".
Com
base em sondagens a 1.426 mulheres e a 839 homens, o estudo é o primeiro
retrato da prevalência da violência física e sexual contra crianças e mulheres,
a forma como a sociedade timorense não lida com o problema e o impacto que isso
tem na sociedade.
Os
números são significativamente mais elevados que outros estudos anteriores
sobre esta matéria não porque a prevalência tenha aumentado, mas porque a
metodologia dos outros estudos era menos precisa, abrangendo várias questões.
Nesta
questão, Marx recorda que tradicionalmente a Asia Foundation trabalha com as
autoridades e outros parceiros locais e que, neste caso, foi criada uma equipa
de trabalho incluindo com representantes de dois ministérios e do Departamento
de Estatísticas para definir a metodologia.
Envolver
a igreja e restantes parceiros é igualmente vital para o êxito de qualquer estratégia,
defendeu.
"São
números muito dramáticos e informação como esta deixa as pessoas
desconfortáveis. Quando ouvimos que 59% das mulheres sofreram violência física
ou sexual é uma estatística que demora a processar. Mais do que ficar chocados
e depois deixar isto numa caixa, o importante é saber o que vamos fazer a
seguir", disse.
"Este
problema não afeta só mulheres e crianças. Afeta todo o desenvolvimento de
Timor-Leste. Estudos recentes mostram que um dos principais indicadores sobre
as perspetivas de prosperidade de um país é a forma como trata as suas
mulheres", afirmou Marx.
ASP
// VM
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