Hong
Kong, China, 17 jun (Lusa) -- Hong Kong regista hoje várias manifestações na
sequência das declarações de quinta-feira do livreiro Lam Wing-kee,
"desaparecido" durante meses, que revelou detalhes sobre a sua
detenção na China e garantiu ter feito uma confissão forçada na televisão.
Cerca
de quarenta manifestantes do novo partido Demosisto concentraram-se hoje em
frente ao Gabinete de Ligação da China em Hong Kong.
"Defendam
as liberdades de Hong Kong", gritaram os manifestantes.
"Esperamos
que o mundo faça pressão sobre o Governo para a libertação de todos os
livreiros", disse Nathan Law, um dos organizadores da manifestação, ao
lado do jovem Joshua Wong, rosto dos protestos pró-democracia em 2014.
Para
o líder estudantil, Lam é um herói: "Lam Wing-kee é um modelo para o povo
de Hong Kong. Ele afronta a opressão do regime comunista", afirmou.
Nathan
Law disse que é importante mostrar que a sociedade de Hong Kong não vai
permitir que tais situações aconteçam.
Antes
da manifestação do Demosisto, um grupo de pessoas levou uma caixa com vermes
até ao Gabinete de Ligação da China. Lai Kwong-wai, da Association for
Democracy and People's Livelihood (ADPL), disse que os vermes simbolizavam as
forças de segurança - que o livreiro acusou de o terem sequestrado - antes de
os pisar.
Outras
manifestações estão previstas para o dia de hoje.
Lam
Wing-kee disse numa conferência de imprensa, na quinta-feira, que foi raptado
na cidade de Shenzhen, junto a Hong Kong, e que esteve preso durante oito meses
por "uma equipa especial" das forças chinesas no interior da China.
"Eu
fui sequestrado por uma 'equipa de investigação central' secreta, que reporta
aos principais líderes do Partido Comunista", disse Lam Win, citado pelo
jornal South China Morning Post.
Lam
Wing-kee é um dos cinco livreiros com atividade em Hong Kong que despareceram
no final de 2015. Um deles desapareceu quando estava em Hong Kong, três
desapareceram quando se encontravam no interior da China e outro na Tailândia.
Os
cinco livreiros trabalhavam para a Mighty Current, uma editora de livros sobre
a vida privada de dirigentes chineses e intrigas políticas na cúpula do poder,
proibidos na China continental.
Todos
os livreiros reapareceram na China, sob tutela das autoridades de Pequim.
Quatro
foram libertados e regressaram a Hong Kong, mas este foi o único a desafiar
Pequim e a contar o que aconteceu.
Os
restantes voltaram à China depois de terem pedido à polícia de Hong Kong para
deixar cair a investigação relativa ao seu caso.
Lam
Wing-kee pediu o mesmo na quarta-feira, mas depois mudou de ideias. O livreiro
devia partir novamente para a China na quinta-feira, mas decidiu ficar em Hong
Kong para contar a sua história numa conferência de imprensa, desafiando as
autoridades chinesas.
O
livreiro contou como foi detido durante uma visita ao interior da China e
interrogado durante meses, sem acesso a um advogado ou à família.
Antiga
colónia britânica, Hong Kong foi devolvida à República Popular da China em
1997, sob a fórmula "um país, dois sistemas", que promete manter os
sistemas sociais e económicos da cidade durante 50 anos, detendo o estatuto de
Região Administrativa Especial.
Depois
da conferência de imprensa de quinta-feira, a Amnistia Internacional (AI)
enviou um comunicado ao Governo chinês em que exige que "admita a
verdade".
Segundo
a diretora da AI-Hong Kong, Lam comunicou "o que muitos suspeitavam há
tempos: que esta foi uma operação orquestrada pelas autoridades chinesas".
"Parece
claro que ele, e provavelmente os outros, foram detidos arbitrariamente,
maltratados e obrigados a confessar", afirmou.
FV
(EZL/EL/DM/FPA) // MP – Foto: Reuters
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