Hong
Kong, China, 01 jul (Lusa) -- O livreiro de Hong Kong Lam Wing-kee, que esteve
detido durante meses na China, desistiu de liderar hoje a marcha do aniversário
da transição de soberania para a China por sentir que enfrenta uma "grave
ameaça".
A
mensagem de Lam foi transmitida pela Frente Civil dos Direitos Humanos,
organizadora da marcha, sem mais explicações, segundo o jornal South China
Morning Post.
Lam
regressou recentemente a Hong Kong após mais de oito meses detido na China. Dos
cinco livreiros de Hong Kong desaparecidos que reapareceram meses depois sob
tutela das autoridades chinesas, Lam foi o único a relatar ao público o que lhe
aconteceu.
"Acredito
que a ameaça grave é do [Governo] central", disse Jimmy Sham Tsz-kit, da
Civil Human Rights Front, que lembrou que a marcha ganhou mais notoriedade
desde que Lam anunciou que a iria liderar este ano.
"Porquê
o súbito e elevado interesse? Acreditamos que o Governo central se importava
verdadeiramente que Lam liderasse a marcha", afirmou, citado pelo jornal
de Hong Kong.
Sham
sublinhou que a segurança do livreiro é a grande prioridade e que a organização
não perguntou por mais motivos para a sua mudança de opinião.
Durante
o terceiro encontro de Lam com a polícia, na quinta-feira, foi revelado que as
autoridades estavam a considerar oferecer-lhe proteção.
Lam,
que era gerente da Causeway Bay Books, é um dos cinco residentes de Hong Kong
ligados à livraria e à casa editora Mighty Current, que publicavam e vendiam
livros críticos do regime comunista de Pequim e proibidos na China, que
desapareceu. Quatro deles já voltaram a Hong Kong.
Ao
regressar, Lam revelou que foi vendado e algemado depois de ser travado e
detido na fronteira, foi levado para Ningbo, na província de Zhejiang, onde foi
mantido num pequeno quarto e interrogado.
Segundo
o livreiro, a sua libertação no mês passado só aconteceu porque os
interrogadores queriam que trouxesse o disco rígido onde estava informação
sobre os clientes da Causeway Bay Books.
A
Frente Civil dos Direitos Humanos estima a participação de 100.000 pessoas na
marcha deste ano, no dia em que passam 19 anos da transferência de soberania de
Hong Kong do Reino Unido para a China.
Por
outro lado, mais de 2.000 polícias estão destacados para a zona do Gabinete de
Ligação do Governo Central da China em Hong Kong, onde três grupos vão promover
um outro protesto, promovido pelo Hong Kong National Party, Hong Kong
Indigenous e Youngspiration, grupos 'localists' que se distanciaram da
tradicional marcha da Frente Civil dos Direitos Humanos.
Segundo
a imprensa local, os três grupos não pediram autorização à polícia para o
protesto.
O
protesto é referido como 'black mask rally' [concentração de máscaras pretas],
em alusão ao pedido dos organizadores para os participantes levarem máscaras e
roupas pretas para dificultar a identificação pela polícia.
O
movimento 'localism' cresceu após as manifestações pró-democracia em 2014 e o
fracasso em conseguir concessões de Pequim sobre a reforma política.
Estes
novos grupos 'localists' pedem uma maior autonomia em relação à China -- alguns
falam mesmo em independência --, e defendem o recurso a táticas mais radicais
para forçar a mudança.
ISG
(FV) // MP
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