Díli,
21 fev (Lusa) - A criação pelo Partido Democrático (PD) timorense de uma força
privada de segurança, a Guarda Democrática, que acompanhará as ações de
campanha e garantirá segurança nos espaços do partido, está a suscitar críticas
em Timor-Leste.
Nos
últimos dias, a direção do PD, encabeçada pelo secretário-geral Mariano Sabino,
deu posse a dezenas de elementos da Guarda Democrática, medida que suscitou
aplausos de apoiantes do partido, mas também muitas críticas nas redes sociais.
Os
elementos da Guarda Democrática apresentam-se com fardas que se assemelham às
das forças de segurança, de cor azul, a cor do partido, e com cobre-nucas
também azuis, ambos decorados com a bandeira do PD.
Lurdes
Bessa, uma das vice-presidentes do PD, explicou à Lusa que a iniciativa
pretende responder a um "problema geral de Timor-Leste": "o
elevado número de jovens que não tem nada para fazer, não tem qualificações ou
ferramentas nas mãos".
"Chama-se
Guarda Democrática, e não saberia que outro nome lhe dar. Estará aí para
garantir que os trabalhos do PD decorrem com normalidade, a segurança durante
os debates e nos espaços que o PD tem atualmente", afirmou.
Longuinhos
Monteiro, ministro do Interior, admitiu à Lusa estar preocupado com a notícia,
explicando que já deu instruções ao comandante geral da Polícia Nacional de
Timor-Leste (PNTL) para obter mais informação sobre o grupo.
"Queremos
saber qual a função, o estatuto e o que fazem. Porque a lei dos partidos
políticos não [lhes] permite (...) criarem o seu próprio corpo de segurança
para as atividades partidárias", sublinhou.
Longuinhos
Monteiro quer saber exatamente qual o papel da Guarda Democrática na campanha
eleitoral, explicando que a PNTL é que garante a segurança, não sendo útil
criar "guardas como estas que possam ser depois sujeitos de perturbações
que possam ocorrer".
"Temos
de ter um esclarecimento bem claro para justificar isto, senão teremos de tomar
medidas para não autorizar este tipo de coisas. A nossa lei de defesa e
segurança interna não tem espaço para a criação de grupos do género - e não
quero utilizar as palavras paramilitares - de uma segurança partidária",
considerou.
Mari
Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin) foi uma das vozes mais críticas da medida, questionando a legalidade
do grupo em declarações à Lusa.
"Trata-se
de um grupo do partido que anda fardado, que faz treino tipo militar, que
cumprimenta com uma saudação de tipo neonazi e faz juramento com o braço
estendido, a fazer lembrar a mocidade portuguesa dos meus tempos de
juventude", disse à Lusa.
Considerando
que "militarizar uma organização juvenil de um partido é ilegal",
Alkatiri disse que é essencial uma investigação e uma "tomada de posição
clara" sobre o assunto, considerando que é "mau sinal" o
aparecimento do grupo em vésperas de eleições.
Instada
a comentar as críticas, Lurdes Bessa rejeita a comparação da Guarda com as
forças políticas da Indonésia e até com as milícias que atuaram em Timor-Leste.
"Cada
um compara com o que lhe for mais conveniente. Tenho ouvido críticas e até
posso entender, mas não é essa a intenção", explicou.
Os
elementos da Guarda Democrática, explicou, estarão também "disponíveis
para fazer intervenção a nível social, em casos de desastre natural, por
exemplo", ganhando assim "um pouco de reconhecimento e
responsabilidade".
Críticos
da decisão do PD comparam a medida com a prática comum na indonésia das
'satgas', as forças de segurança dos partidos políticos que se tornaram,
segundo vários especialistas, intervenientes não regulados na segurança
nacional.
Convocados
para ações partidárias e ações sociais, como a distribuição de alimentos, as
'satgas' têm, em muitos casos, acabado por se tornar elementos associados a
militarismo e violência, continuando a ser legitimados apenas pela sua relação
com as forças políticas.
Estudos
conduzidos sobre a ação das 'satgas' na Indonésia notam, por exemplo, o seu
envolvimento em atividades ilegais, a concorrência entre unidades de vários
partidos e até casos de ataques a jornalistas ou opositores políticos.
ASP
// FPA
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