Díli,
10 mar (Lusa) - O Presidente da República timorense, Taur Matan Ruak,
considerou hoje normal haver tensão política com outras individualidades
timorenses, incluindo Xanana Gusmão, insistindo que nunca pretendeu fazer
quaisquer ataques pessoais mas simplesmente debater ideias.
"As
pessoas têm o direito de avaliar o que eu disse. Mas não foi essa a minha
intenção (o ataque pessoal). Foi para parar um pouco, repensar a nossa política
e avançar lentamente, não ignorando a opinião dos outros", disse em entrevista
à Lusa.
"Uma
das características dos militares é ser frontal demais, não ser diplomático.
Isso cria embaraço. É um defeito meu. Agora estou a ter que aprender, mas antes
de aprender os outros vão ter que levar", explicou entre risos.
A
relação entre Ruak e Gusmão (ex-primeiro-ministro e atual ministro do
Planeamento e Investimento Estratégico) deteriorou-se nos últimos anos depois
de várias críticas do Presidente à ação do Governo e, em particular, depois de
um polémico discurso que proferiu no Parlamento Nacional, no início de 2016.
No
discurso, Taur Matan Ruak acusou Xanana Gusmão e os líderes da Fretilin
(segundo partido timorense) Mari Alkatiri e Lu-Olo de usarem a unanimidade
política não para resolver os problemas mas apenas para poder e privilégio,
beneficiando familiares e amigos.
O
chefe de Estado chegou a comparar a ação dos líderes com práticas do ex-ditador
indonésio Suharto, em comentários que marcaram um discurso cheio de críticas ao
modelo de desenvolvimento do Governo e que levaram Xanana Gusmão a devolver ao
Presidente uma condecoração com tinha sido agraciada no ano anterior.
"Gostaria
de informar sua excelência de que eu, humildemente, peço para aceitar o
devolver desta medalha, para a poder entregar a outras pessoas que a merecem
mais", explicou Xanana na carta em que devolveu a medalha.
Questionado
sobre se considerava, hoje, que esses comentários poderiam ter sido um exagero,
Taur Matan Ruak afirmou que "as pessoas apanharam o supérfluo" do seu
discurso "para o tornar um problema".
"O
meu ponto de vista, o que nos faz diferentes é a opinião sobre o modelo de
desenvolvimento. Não concordo muito com este modelo de desenvolvimento e com
este modelo de civilização. Naturalmente eles não viram isto, viram mais o
supérfluo", afirmou.
Sobre
como está hoje a relação, o chefe de Estado diz que Xanana Gusmão e Mari
Alkatiri "normalmente andam fugidos" do Presidente.
"Eu
estou muito à vontade. Não tenho problemas. Onde está o Presidente, eles não
estão. Espero que isso não continue. Eu não tenho inimigos nem adversários
permanentes. Sou suficientemente civilizado para lidar com pessoas",
considerou.
O
chefe de Estado rejeitou igualmente que haja problemas na sua relação com o
comandante das F-FDTL, major-general Lere Anan Timur, depois da longa saga que
foi a decisão sobre a sucessão no comando das forças de defesa.
Taur
Matan Ruak chegou a anunciar duas alternativas que o Governo rejeitou, acabando
por ceder na posição inicialmente defendida pelo executivo, a de manter Lere
Anan Timur no cargo.
"O
meu esforço era proceder à transição. O Governo insistiu em manter e o
Presidente conformou. O Presidente da República quer manter a coesão
institucional, a relação com parlamento e Governo. Um tem que ceder. O PR como
chefe de Estado decidiu ceder. Foi uma pequena contribuição minha para manter
as coisas mais calmas e serenas", disse.
Timor-Leste,
insiste, "é um país democrático e civilizado", onde as pessoas
"não se matam por causa das diferenças" e as críticas são recebidas
"de forma natural", como um processo normal na democracia, algo
"positivo, de formação, de transformação".
Taur
Matan Ruak termina o seu mandato a 20 de maio, dia em que se cumprem 15 anos da
restauração da independência de Timor-Leste e em que tomará posse o seu sucessor,
eleito de entre os oito candidatos atualmente em campanha.
ASP
// JPS - Foto@
António Sampaio /EPA
Sem comentários:
Enviar um comentário