Díli,
10 mar (Lusa) - Timor-Leste precisa de um Presidente que seja
"humilde", dê atenção à cidadania e não deixe o Governo esbanjar
recursos, e de um executivo consciente da situação real do país, afirmou hoje o
chefe de Estado.
Em
entrevista à Lusa e sem querer referir-se em concreto a qualquer candidato ou
partido, Taur Matan Ruak traçou assim o perfil do Presidente que considera
dever ser eleito a 20 de março e do Governo que sairá das legislativas de
julho.
"Um
presidente humilde que dê atenção aos nossos cidadãos e que seja um elemento
que equilibra e não deixa o Governo usar abusivamente o seu poder para esbanjar
os nossos recursos", afirmou. "Um Governo realístico, que se baseia
não em expetativas mas na realidade do dia-a-dia do povo", disse ainda.
Perfis
que, explica, são essenciais num cenário em os jovens com menos de 25 anos, a
maioria da população, são "muito mais exigentes" e "já não têm
paciência para aturar tudo", querendo soluções práticas para os seus
problemas: "querem água, escolas, emprego".
Num
momento de "natural" transição geracional em Timor-Leste - este ano
votam os primeiros jovens nascidos já depois da ocupação indonésia (que
terminou em 1999), Taur Matan Ruak considera que é legítimo que velhos e novos
tenham aspiração mas insiste que a sua geração e a anterior não podem ser
obstáculos.
"A
maioria da população é jovem. São uma geração muito exigente e se não os
cuidarmos a nossa geração vai ser considerada como a geração que está obstruir,
a obstaculizar o avanço das outras gerações e eu tenho medo disso",
afirmou.
"Fala-se
em inflexibilidade psicológica, a maneira de pensar e o comportamento. É muito
difícil mudar. Mas se não nos adaptarmos somos considerados obstáculos",
referiu.
Sobre
si próprio diz que não é nem da geração dos jovens mas rejeita que seja da
geração mais velha que ainda está ativa em posições de liderança, homens como
Xanana Gusmão, José Ramos-Horta ou Mari Alkatiri, de quem em média tem cerca de
10 anos de diferença.
"Eu
não faço parte dessa geração mais velha. Porque quando eles eram líderes eu era
soldado a transportar munições", disse.
Numa
entrevista à Lusa em jeito de balanço dos cinco anos de mandato, que termina a
20 de maio, Taur Matan Ruak disse que cumpriu os seus objetivos, focando grande
parte da sua ação no diálogo com a população, visitando todo o país para
envolver os timorenses no processo de desenvolvimento, procurando apoiar o
Governo a melhorar o seu serviço aos cidadãos e a reduzir a burocracia.
Presidiu
numa altura de mudança de Governo, que deixou de ser liderado por Xanana Gusmão
(o V Governo Constitucional) e passou, em janeiro de 2015, a ser liderado por
Rui Maria de Araújo (VI Governo) e considera que o segundo fez melhor trabalho
que o primeiro.
Esteve
"um bocadinho melhor organizado" merecendo notas positivas a
prestação de serviços e uma maior aproximação do Estado aos cidadãos, mas
permanecendo ainda "lacunas e deficiências que podem ser melhoradas".
Taur,
que visitou praticamente todo o país, disse que encontrou uma população
"muito abandonada" e um Governo "praticamente confuso, a saber o
que quer mas não a saber o que fazer para lá chegar".
Como
exemplo do que encontrou quando começou a visitar o país e que demonstra o que
diz ser a desorganização do Governo, Matan Ruak diz que o executivo "não
sabia que mais de 100 mil crianças, em 2014, estavam sentadas no chão nas
escolas".
Ou
então que de mais de 200 acordos, protocolos e memorandos de entendimento
assinados com vários países, "apenas tinham sido implementados 20 e
tal".
Assuntos
que levantou durante a sua presidência, com criticas à ação governativa, mas
que considera "não tiveram compreensão da parte do Governo e do
parlamento" com quem diz discordar sobre o modelo de desenvolvimento do
país.
"O
que fiz foi chamar a atenção para as necessidades básicas da população. Uma
coisa é investir em mega projetos, outra coisa é responder às necessidades
básicas da população, como água e saneamento", explica.
"Dos
17 sucos que visitei em Dili, só quatro é que não levantaram problemas sobre
abastecimento de água. Os restantes levantaram todos estes problemas. E no
resto do país o mesmo", exemplifica.
Taur
Matan Ruak termina o seu mandato a 20 de maio, dia em que se cumprem 15 anos da
restauração da independência de Timor-Leste e em que tomará posse o seu
sucessor, eleito de entre os oito candidatos atualmente em campanha.
ASP
// JPS
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