Díli,
15 mai (Lusa) -- O bispo timorense Basílio do Nascimento considerou hoje que a
confusão na política linguística em Timor-Leste, que não permite o domínio do
português e consequentemente de uma gramática, pode sacrificar a capacidade de
pensamento de duas gerações.
"As
pessoas julgam que aprender a língua é pura e simplesmente a aquisição de
léxico. Para se fazerem entender é necessário ordenar o léxico. E isto tem a
ver com uma gramática", disse à Lusa o presidente da Conferência Episcopal
Timorense e bispo de Baucau.
"Já
não me interessa se é uma língua ou outra. O que me preocupa é que estamos a
sacrificar duas ou três gerações, sem capacidade de pensamento porque para se
pensar é necessário dominar uma gramática", considerou.
Notando
que os timorenses falam várias línguas, mas que a maioria as fala mal, o bispo
disse que o tétum não tem ainda gramática organizada e, por isso, não pode
contribuir para o ordenamento do pensamento.
"Se não querem o português, muito bem. Mas ponham uma língua cuja aprendizagem é capaz de estruturar o pensamento das pessoas para possibilitar aos timorenses a capacidade de pensar. Se não, não vamos longe", considerou.
Basílio
do Nascimento falava à Lusa à margem do 3.º Congresso Nacional da Educação, que
começou hoje em Díli, e de onde sairá, espera o executivo, um conjunto de
consensos para as políticas educativas.
Numa
altura de reflexão sobre o setor educativo, no primeiro grande debate nacional
em quase 10 anos, o bispo destacou a "importância da língua como
instrumento vital e crucial para a existência de uma nação".
Mais
do que olhar para a língua "apenas como um meio de comunicação" é
necessário aprofundar a visão de que a língua é "um instrumento crucial
para a afirmação de uma nação" e "um instrumento de transmissão de
ideias e de pensamentos".
Essencial,
disse, para que "uma nação se faça entender pelos outros e para que a
população se entenda a si própria" mas também como "elemento de
unidade" nacional.
Sobre
as várias 'experiências' levadas a cabo nos últimos anos - como o projeto das
línguas maternas ou alterações ao currículo - Nascimento disse que não se
percebe se foram feitas "por amor ou por desamor a Timor-Leste" ou
apenas para "criar confusão e fazer com quem a população sinta que é
difícil e não vale aprender a língua".
Para
o bispo a ideia da política linguística foi "pura" mas faltou
"vontade, meios e recursos para a implementar e desenvolver", tendo,
em alguns casos "havido obstáculos exteriores que porventura fizeram
pressão para isto não andar tão depressa".
Ainda
assim, disse, "as coisas vão caminhando um pouco mais positivamente"
com cada vez "mais pessoas nas instituições a pedirem para aprender o
português".
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