Macau,
China, 21 set (Lusa) -- A Novo Macau, a maior associação pró-democracia da
cidade, afirmou hoje ter sido alertada pela Google de que foi alvo de
ciberataques "apoiados pelo Governo" durante a campanha eleitoral,
que cessaram após as eleições de domingo.
"A
Google alertou-nos que 'hackers' do Governo podiam estar a tentar roubar a
nossa 'password'. Todos estes ciberataques pararam um dia após as eleições.
Acho que não é uma coincidência", disse Jason Chao, membro da Associação
Novo Macau (ANM), em conferência de imprensa.
Uma
lista afiliada à ANM elegeu no domingo o mais jovem deputado da Assembleia
Legislativa de Macau, Sulu Sou.
Jason
Chao, que liderou a associação entre 2010 e 2014 e continuou desde então
envolvido com as suas atividades, listou aqueles que considerou terem sido os
maiores problemas durante a campanha, entre eles o ataque informático, não só
aos emails dos candidatos e da associação, mas também às contas da rede social
Facebook e de Telegram, uma plataforma de troca de mensagens.
No
entanto, nestes dois últimos casos, as empresas apenas informaram que alguém
estava a tentar entrar nas contas, sem referência a interferências
governamentais.
"Provavelmente,
as autoridades queriam conhecer as nossas atividades para melhor arquitetar
campanhas difamatórias. Mas isto é apenas uma especulação minha. O que posso
dizer ao público é que fomos informados pela Google de que fomos sujeitos a
ataques por 'hackers' apoiados pelo Governo", disse.
Na
mensagem da Google, que Chao mostrou aos jornalistas, a empresa escreveu:
"Existe a possibilidade de isto ser um falso alarme, mas detetámos que
atacantes apoiados pelo Governo estão a tentar roubar a tua 'password'. Isto
acontece a menos de 0,1% dos utilizadores. Não podemos revelar o que nos alertou
porque os atacantes podem reparar e mudar as suas táticas, mas se forem
bem-sucedidos, a certa altura podem aceder aos teus dados ou tomar outras ações
usando a tua conta".
Questionado
sobre que Governo suspeitava estar pode trás dos ciberataques, o de Macau ou o
da China, Chao apontou para o segundo. "Pelo que sei, o Governo de Macau
não tem a capacidade de desenvolver tecnologia de 'hacking'", disse.
Jason
Chao, de 30 anos e que desde 2005 tem vindo a dedicar-se ao ativismo, deixa
Macau no sábado com destino ao Reino Unido, para fazer um mestrado.
A
partir de agora, disse, deixará de centrar o seu trabalho em Macau, mas
pretende continuar a representar algumas organizações do território nas
reuniões da ONU, quando for analisada a implementação de tratados
internacionais.
Nos
últimos 17 anos, Chao disse ter assistido a uma "deterioração generalizada
da proteção dos direitos".
"Quando
falamos da política de Macau temos de ter a China em consideração. Nos últimos
anos, os governos da China e de Hong Kong têm lutado contra o movimento de
independência de Hong Kong ou outros que pretendem promover democracia. Torna a
situação em Macau mais difícil", disse.
"Objetivamente
vemos que a polícia está muito interessada em reunir informação sobre
ativistas. Estamos sob vigilância e o Governo tem agora mais vontade de acusar
os ativistas", comentou.
Por
outro lado, Chao considera que a sociedade civil não "está a
desenvolver-se bem".
"Até
que ponto é que os cidadãos valorizam a liberdade? Pensam os cidadãos que há
necessidade de lutar por maior liberdade? Estas são as bases de uma sociedade
civil saudável", disse.
Tendo
em conta estes dois fatores, "o ativismo em Macau é muito difícil".
"Estamos
só ligeiramente melhores que a China, pelo menos ainda temos Internet livre.
Mas não sabemos quando é que vamos ter de começar a usa VPN [Virtual Proxy
Network]. Desejo o melhor aos meus colegas em Macau", concluiu.
ISG
// FPA
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