Díli,
18 out (Lusa) - O primeiro-ministro timorense declarou hoje que a aliança dos
três partidos da oposição, que quer ser alternativa de Governo, é
"contranatura" porque envolve um partido a favor de grandes projetos
e outro contra grandes projetos.
"A
aliança é contranatura. É uma aliança contra a natureza política. Não somos nós
a contradição. A aliança é que é a contradição", afirmou Mari Alkatiri,
intervindo no terceiro dia do debate do programa do Governo no Parlamento
Nacional.
"O
CNRT [Congresso Nacional da Reconstrução Timorense] defende [os grandes
projetos] de Tasi Mane, Oecusse, e agora faz alianças com o PLP [Partido
Libertação Popular], um partido que é contra Tasi Mane e contra Oecusse. Isso é
contranatura", disse, referindo-se a dois dos maiores projetos em curso em
Timor-Leste. "Peço desculpa, mas isto não tem muito lógica",
acrescentou.
Mari
Alkatiri respondia às críticas da oposição sobre aquilo considerou serem
contradições patentes no programa do Governo, que o Executivo está a apresentar
desde terça-feira.
Deputados
do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), do Partido Libertação
Popular (PLP) e do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) têm
criticado o que considerou "incoerências e inconsistências" do texto
que o Governo disse ter assentado no princípio de "evolução na
continuidade".
"A
continuidade para a Fretilin [Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente]
é normal, natural. Não é contranatura. Não há nada contranatura. Em termos de
visão de Estado, de sentido de Estado, o Estado é uma continuidade permanente.
O Governo muda. O Estado é uma continuidade permanente", afirmou Alkatiri.
"Mas
também tem que haver evolução. A evolução tem que ocorrer. Com o CNRT também
tem que haver evolução. O CNRT também não ficou estático. Tem que haver
evolução", reiterou.
Questionando
o que disse ser diferenças entre as promessas que alguns partidos fizeram nas
eleições e a postura que têm manifestado no debate do programa, Alkatiri disse
que os líderes políticos "não podem frustrar a expectativa do povo, que
expressou no seu voto".
"A
base da negociação tem que ser o que se prometeu ao povo. A base tem que ser o
voto do povo", considerou.
Alkatiri
reiterou a disponibilidade para "encontrar entendimentos" sobre o
programa, afirmando estar disponível para ouvir propostas que até agora ainda
não foram feitas.
"Eu
quero ouvir propostas. Estou preparado para acomodar. Se não houver não podemos
acomodar. Mas os ilustríssimos deputados não fizeram até agora uma única
proposta. Eu espero propostas", disse.
Também
Mariano Sabino, ministro de Estado e dos Recursos Minerais - e presidente do
Partido Democrático (PD) que é parceiro da Fretilin na coligação de Governo -
usou a sua primeira intervenção no debate desta semana para defender o diálogo.
Sabino
recordou que o próprio Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED), documento
sobre o qual assenta o programa do Executivo, resultou de um amplo diálogo e
consenso nacionais, refletindo o interesse do país e do Estado.
"O
processo de construção de Estado é multipartidário, mas procura uma visão comum
para o desenvolvimento. Precisamos de ter uma visão comum na busca do interesse
comum e nacional", disse.
"A
democracia tem que ter a capacidade para a negociação. É um direito, mas é
também uma responsabilidade. Apreciamos o contributo de todos. Com um debate
salutar, sem ofender. O Governo quer dar continuidade, mas com flexibilidade para
incorporar as ideias de outros, o reflexo desse multipartidarismo", frisou
Sabino.
Numa
das suas intervenções hoje, Fidelis Magalhães, líder da bancada do PLP,
reiterou a sua discordância com o programa do Governo, considerando haver
"um conflito inerente" entre a vontade do executivo fazer
"continuidade e mudança".
"O
Governo fala de continuidade, mas de evolução, de uma mudança pequena, mas sem
rotura, sem revolução. Só que este é um programa expansionista e fazer
continuidade e ao mesmo tempo mudança é difícil de concretizar e tem um
conflito inerente entre os dois pontos", afirmou.
Fidelis
Magalhães sublinhou a preocupação do PLP com a "continuação de grandes
projetos, ou projetos intensivos em termos de capital", e acrescentou
discordar de "incluir todos os programas" na governação.
"Isso
contribui negativamente para a governação. Prefiro oposição que não faz parte
do Executivo, que continua na oposição. Todos juntos danifica a economia. A
democracia precisa de oposição e de Governo. Não podemos ser ao mesmo tempo
oposição e governo", disse.
O
líder do PLP no parlamento reafirmou que concorda "com a aliança CNRT e
KHUNTO", que cria uma "plataforma política para garantir
desenvolvimento e governação estável" para o país.
ASP
// EJ
Sem comentários:
Enviar um comentário