segunda-feira, 9 de julho de 2018

Estado timorense sem dinheiro para "normal funcionamento" - Coligação no poder


Díli, 09 jul (Lusa) - A coligação AMP, no poder em Timor-Leste, considerou hoje que o Estado não tem dinheiro suficiente para um "normal funcionamento" este mês e responsabilizou o Presidente timorense pela situação, ao não empossar todo o executivo.

A Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) sublinhou que "enquanto o Governo não se encontrar plenamente constituído, não é possível, de forma politicamente responsável, apresentar o programa de Governo e, consequentemente, a proposta de lei de Orçamento para 2018", necessário para pôr fim ao regime de duodécimos em vigor desde janeiro e "ao sufoco financeiro que o país atravessa".

Francisco Vasconcelos, deputado do Partido Libertação Popular (PLP), uma das três formações da AMP no Parlamento Nacional, indicou que os cofres do Estado "apenas dispõem de cerca de 20 milhões de dólares norte-americanos (17 milhões de euros)".

"O Estado necessita de cerca de 80 milhões para poder garantir o seu normal funcionamento, neste mês de julho", disse, na sessão plenária, ao justificar a decisão de chumbar o pedido de autorização do chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, para visitar Portugal esta semana.

A votação do pedido de autorização está agendada para hoje.

O valor de 80 milhões de dólares necessários para o funcionamento normal do Estado inclui "17 milhões para salários e vencimentos dos funcionários públicos, 30 milhões para bens e serviços, 17 milhões destinados às transferências públicas para os Veteranos, Idosos e subsídio condicional de Bolsa da Mãe", indicou.

Se o Orçamento não for aprovado "ficarão comprometidos os meios financeiros para fazer face ao "pagamento de salários, vencimentos, pensões ou abonos, funcionamento de hospitais e centros de saúde, escolas e forças de segurança, referiu o deputado.

Além disso está igualmente em risco o "fornecimento de energia elétrica, sem o qual vai haver um 'blackout', em todo o território nacional" e o funcionamento do porto e do aeroporto de Díli.

"Esta situação, a verificar-se, será da exclusiva responsabilidade do Presidente da República, que insiste em manter a situação de impasse político criada pelo próprio Presidente, por não respeitar a vontade soberana do povo timorense, ao contrário do que o próprio afirmou, no discurso de posse, de parte dos elementos do VIII Governo Constitucional", acrescentou.

A AMP considerou que "a responsabilidade é agravada" porque durante o anterior Governo, liderado pela Fretilin, partido de Lu-Olo, "foram realizadas e pagas despesas que não eram essenciais ao funcionamento do Estado, gastando dessa forma os fundos escassos que ainda existiam".

Entre os exemplos, Vasconcelos citou o pagamento "ao Partido FRETILIN, usando o nome do cidadão Francisco Guterres Lú Olo de 1.300.000 dólares, o pagamento ao cidadão António da Conceição de mais de 700.000 dólares e o pagamento incontrolável de 'perdiem' aos membros do VII Governo, que percorriam o país num esforço hercúleo, para programas de campanhas pré-eleitorais".

"Não seria compreendido por ninguém que, no momento em que os recursos financeiros do Estado estão praticamente esgotados e muitos serviços públicos ameaçados de fechar, o Presidente da República possa dar-se ao luxo de gastar milhares de dólares para viajar com a sua larga comitiva até Portugal", disse, justificando o chumbo à viagem de Lu-Olo para Lisboa.

A formação do VIII Governo tem estado num impasse, com o Presidente timorense a recusar dar posse a 11 dos membros nomeados pela AMP e pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, nove por alegadamente terem "o seu nome identificado nas instâncias judiciais competentes" e dois por possuírem "um perfil ético controverso".

A situação política em Timor-Leste já tinha levado o Presidente timorense a cancelar a participação na cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) em Cabo Verde, este mês.

ASP // EJ

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