Díli, 09 jul (Lusa) - A oposição
timorense considerou hoje um "desastre diplomático" a decisão da
coligação maioritária do Governo, a AMP, de chumbar o pedido de autorização do
Presidente para a visita de Estado a Portugal, marcada para esta semana.
"É um juízo errado, uma
política de má fé e um desastre diplomático impedir o Presidente da República
de reforçar a relação bilateral com Portugal. Travar esta visita é grave,
porque é uma visita em que representa o Estado", afirmou o deputado
Adriano dos Nascimento, da bancada do Partido Democrático (PD).
Os comentários de Nascimento
surgiram depois das bancadas da coligação do Governo terem declarado que vão
chumbar o pedido de autorização para a visita de Francisco Guterres Lu-Olo a
Portugal, devido ao impasse em torno da tomada de posse de alguns membros do
Governo.
"A relação com Portugal é
importante. Não é responsável ou honesto tomar esta decisão. É um desastre
diplomático", insistiu.
Para David Ximenes, deputado da
bancada da Fretilin [Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente], a
postura da coligação do Governo demonstra "infantilismo político",
pelo que "a visita não pode ser cancelada".
"O facto do Presidente pedir
para reconsiderar a lista apresentada pelo primeiro-ministro é que foi a causa
para esta reação aqui, como retaliação. Dá uma má imagem internacional de
Timor-Leste", disse à Lusa.
"Mostra que não se está a
fazer uma política saudável, mas politiquice, pelos interesses dos grupos. Os
deputados, quando são eleitos, passam a ser representantes de todo o povo. Esta
visita é uma questão de Estado", sublinhou.
Francisco Branco, chefe da
bancada da Fretilin, a maior da oposição, criticou a postura da coligação do
Governo, afirmando que "não fazem sentido" os argumentos
apresentados.
"Não se pode usar uma visita
de Estado neste debate, se todos tiverem de facto postura de Estado, pondo de
lado todas as divergências numa questão que é suprapartidária", disse.
"O chefe de Estado
questionou alguns nomes e agora a maioria usa a sua maioria para travar o
Presidente", afirmou, recordando que a sociedade civil "não quer
corrupção" e que o Presidente timorense tem atuado para defender
"honestidade e integridade" e sempre em respeito da Constituição.
Mariano Sabino, deputado do PD,
também criticou a postura da coligação do Governo, ao considerar ser preciso
"um novo paradigma" para a política em Timor-Leste.
"O Presidente é o Presidente
de todo o Estado e a visita de Estado é importante para a relação entre nações.
Portugal é a nação mais importante para Timor-Leste, que lutou pela
independência e hoje continua a lutar para libertar o povo", afirmou.
"É importante separar a
decisão do Presidente, na sua interpretação da Constituição, do Presidente como
representante de todo o povo e da nação nesta visita", sustentou.
No arranque da sessão plenária de
hoje do Parlamento Nacional, o deputado Francisco Vasconcelos, do Partido
Libertação Popular (PLP), leu uma declaração em nome das bancadas da Aliança de
Mudança para o Progresso (AMP), a coligação que apoia o VIII Governo.
"A AMP, consciente do papel
do Parlamento Nacional, perante a Constituição da República, e em defesa dos
sagrados interesses do Povo, não vai autorizar a deslocação do Presidente da
República ao estrangeiro", disse Vasconcelos.
A decisão responde ao "atual
impasse político, criado [pelo] próprio" Presidente, ao não dar posse a 11
dos membros do Governo da AMP, o que deixou o país "numa situação política
anormal", explicou.
"Neste momento, o país, o
nosso povo, precisam que o chefe de Estado esteja presente em território
nacional e demonstre estar à altura das altas responsabilidades constitucionais
que lhe incumbem, contribuindo para a estabilidade política, para a
governabilidade do Estado e para a paz social", declarou.
ASP // FST/EJ
Na foto: Lu Olo, PR de Timor-Leste
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