segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Estrada cortada, 'graffiti' nas paredes e tensão em bairro de Díli onde jovens foram mortos

Imagens da RTTLmostram os corpos dos jovens abatidos pela polícia e dos familiares no Hospital Guido Valadares
Díli, 19 nov (Lusa) - Habitantes do bairro de Díli, onde no domingo três jovens foram mortos por disparos de polícias fora de serviço, cortaram hoje a rua principal em protesto, deixando críticas e insultos escritos nas paredes de vários edifícios.

Ao início desta manhã, jovens do bairro de Kuluhun fecharam a estrada, de forma rudimentar, com algumas pedras, fitas de plástico e um caixote de lixo de metal onde, como nas paredes de vários edifícios da zona, se podem ler insultos e críticas à polícia.

"Kuluhun de Baico Anti-Policia" e "Não usem as armas contra o povo" são algumas das frases que se juntam aos insultos, também multiplicados nas redes sociais, onde o incidente gerou uma onda de condenação e critica.

Um protesto digital ampliado com denúncias de situações, em vários pontos do país e em várias circunstâncias, em que polícias armados fora de serviço dispararam tiros para o ar, ou recorreram à arma de serviço para incidentes privados.

Também nas redes sociais são repetidos os apelos para que a PNTL desarme todos os agentes fora de serviço e garanta um maior controlo dos agentes.

O incidente na madrugada de domingo envolveu pelo menos dois agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), fora de serviço, que efetuaram disparos numa festa no bairro, dos quais resultaram três mortos e três feridos graves.

"Alguns jovens começaram a discutir e outros jovens tentaram acalmar as coisas. A situação fica tensa e um polícia que estava lá, à civil, disparou para o ar. Veio outro polícia e disparou para as pessoas", disse à Lusa João Noronha, residente do bairro.

Outra testemunha, que pediu o anonimato, descreveu o que disse ter sido o comportamento "à cowboy" de um dos polícias.

"Um disparou para o ar, mas o outro subiu para uma cadeira, continuou com calma a fumar e disparou diretamente para as pessoas. À cowboy", contou a testemunha, que se encontrava na festa.

Quatro polícias timorenses, dois que dispararam e dois outros que estavam no mesmo local também armados, foram detidos, "desfardados, desarmados e suspensos preventivamente durante 90 dias", declarou à Lusa o comandante da PNTL, Julio Hornay.

"Serão apresentados em 72 horas. Estamos à espera que todo o processo inicial seja concluído", indicou hoje à Lusa.

Acompanhado de vários elementos do comando da PNTL, Hornay esteve com as famílias das vítimas mortais, tendo em seguida visitado os feridos ainda internados no Hospital Nacional Guido Valadares, a quem prometeu apoio.

"A responsabilidade moral, como comando é apoiar as famílias neste momento. Vamos dar todo o apoio necessário", afirmou.

Duas das vítimas mortais, Leo, de 18 anos, e Eric, de 24, deixaram mulheres e filhos pequenos. Kevin, 18 anos, solteiro, foi a terceira vítima. Todos vizinhos, todos de um mesmo bairro, onde hoje a tensão e a contestação eram visíveis.

Em três casas estão já a ser preparados velórios que só vão começar depois de concluídas as autópsias, necessárias para as investigações criminais. Até lá, mantém-se a tensão, apesar de não terem registado ainda quaisquer incidentes.

"Agradeço aos jovens de Kuluhun de Baixo que se estejam a manter calmos. Vamos esperar pela ação da polícia e do tribunal", disse Hornay.

"Eles querem decisões mais fortes perante os indivíduos da PNTL que fizeram isto. Expliquei que ações já tomámos, mas temos que esperar o processo criminal. Cada um, quando usa armas, só pode usá-las em serviço. Vamos agir de forma forte perante esta situação", considerou.

ASP // EJ

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