Imagens da RTTLmostram os corpos dos jovens abatidos pela polícia e dos familiares no Hospital Guido Valadares
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Díli, 19 nov (Lusa) - Habitantes
do bairro de Díli, onde no domingo três jovens foram mortos por disparos de
polícias fora de serviço, cortaram hoje a rua principal em protesto, deixando
críticas e insultos escritos nas paredes de vários edifícios.
Ao início desta manhã, jovens do
bairro de Kuluhun fecharam a estrada, de forma rudimentar, com algumas pedras,
fitas de plástico e um caixote de lixo de metal onde, como nas paredes de
vários edifícios da zona, se podem ler insultos e críticas à polícia.
"Kuluhun de Baico
Anti-Policia" e "Não usem as armas contra o povo" são algumas
das frases que se juntam aos insultos, também multiplicados nas redes sociais,
onde o incidente gerou uma onda de condenação e critica.
Um protesto digital ampliado com
denúncias de situações, em vários pontos do país e em várias circunstâncias, em
que polícias armados fora de serviço dispararam tiros para o ar, ou recorreram
à arma de serviço para incidentes privados.
Também nas redes sociais são
repetidos os apelos para que a PNTL desarme todos os agentes fora de serviço e
garanta um maior controlo dos agentes.
O incidente na madrugada de
domingo envolveu pelo menos dois agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste
(PNTL), fora de serviço, que efetuaram disparos numa festa no bairro, dos quais
resultaram três mortos e três feridos graves.
"Alguns jovens começaram a
discutir e outros jovens tentaram acalmar as coisas. A situação fica tensa e um
polícia que estava lá, à civil, disparou para o ar. Veio outro polícia e
disparou para as pessoas", disse à Lusa João Noronha, residente do bairro.
Outra testemunha, que pediu o
anonimato, descreveu o que disse ter sido o comportamento "à cowboy"
de um dos polícias.
"Um disparou para o ar, mas
o outro subiu para uma cadeira, continuou com calma a fumar e disparou
diretamente para as pessoas. À cowboy", contou a testemunha, que se
encontrava na festa.
Quatro polícias timorenses, dois
que dispararam e dois outros que estavam no mesmo local também armados, foram
detidos, "desfardados, desarmados e suspensos preventivamente durante 90
dias", declarou à Lusa o comandante da PNTL, Julio Hornay.
"Serão apresentados em 72
horas. Estamos à espera que todo o processo inicial seja concluído",
indicou hoje à Lusa.
Acompanhado de vários elementos
do comando da PNTL, Hornay esteve com as famílias das vítimas mortais, tendo em
seguida visitado os feridos ainda internados no Hospital Nacional Guido
Valadares, a quem prometeu apoio.
"A responsabilidade moral,
como comando é apoiar as famílias neste momento. Vamos dar todo o apoio
necessário", afirmou.
Duas das vítimas mortais, Leo, de
18 anos, e Eric, de 24, deixaram mulheres e filhos pequenos. Kevin, 18 anos,
solteiro, foi a terceira vítima. Todos vizinhos, todos de um mesmo bairro, onde
hoje a tensão e a contestação eram visíveis.
Em três casas estão já a ser
preparados velórios que só vão começar depois de concluídas as autópsias,
necessárias para as investigações criminais. Até lá, mantém-se a tensão, apesar
de não terem registado ainda quaisquer incidentes.
"Agradeço aos jovens de
Kuluhun de Baixo que se estejam a manter calmos. Vamos esperar pela ação da
polícia e do tribunal", disse Hornay.
"Eles querem decisões mais
fortes perante os indivíduos da PNTL que fizeram isto. Expliquei que ações já
tomámos, mas temos que esperar o processo criminal. Cada um, quando usa armas,
só pode usá-las em
serviço. Vamos agir de forma forte perante esta
situação", considerou.
ASP // EJ
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