Díli, 09 nov (Lusa) - Cerca de 20
jovens foram hoje detidos na sequência de uma intervenção da polícia timorense
que usou balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar estudantes que se
manifestavam em frente ao Parlamento Nacional de Timor-Leste.
"Há cerca de 20
detidos", confirmou fonte policial que explicou que estiveram envolvidos
agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).
A intervenção da polícia ocorreu
depois de vários dias de protestos organizados pelo Movimento Universitário de
Timor-Leste (MULT) que contesta, como o fez no passado, a compra de viaturas
para os deputados.
Os estudantes questionam em
particular o facto de os veículos usados pelos deputados serem leiloados, a
preços muito mais baixos do que o mercado, quando os deputados terminam o
mandato.
Uma delegação do MUTL esteve esta
semana com o Presidente do Parlamento Nacional para apresentar a sua
contestação à decisão do Parlamento, que prevê comprar quase 50 novas viaturas.
Cerca de 34 ex-deputados, que
terminaram a sua legislatura este ano, poderão comprar as viaturas que usavam.
Apesar de alguns momentos de tensão,
o protesto tem decorrido sem grandes incidentes, situação que mudou hoje,
segundo fonte policial, quando os estudantes se aproximaram mais do que os 100 metros permitidos no
complexo do Parlamento.
O Parlamento está localizado à
frente dos edifícios principais da Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL)
e os manifestantes concentram-se num jardim próximo, ao lado da entrada do
Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT), no centro de Díli.
O protesto tinha já sido
contestado por alguns deputados pelo facto dos estudantes usarem caixões e
cruzes, simbolizando as usadas em lápides, com nomes de deputados e do
presidente do Parlamento Nacional.
Adrovaldo, um dos estudantes,
explicou à Lusa que o protesto foi convocado para reivindicar "justiça
social", contestando o uso de fundos públicos para comprar carros novos,
quando "há tantos problemas no país".
"Estamos a fazer este
protesto em defesa dos interesses do povo. O Parlamento deve atender aos
interesses do povo. Se não houver decisão, vamos continuar aqui em
protesto", disse.
"Nós não queremos
anarquismo, mas a polícia disparou contra nós, aqui no campus da
Universidade", disse, ao lado de um jovem que mostrou um ferimento ligeiro
na cabeça, alegadamente em resultado da intervenção policial.
Cândido Araújo Silva, aluno do
terceiro ano de Relações Internacionais, insistiu que os jovens têm autorização
da polícia para se manifestar e questiona a intervenção "muito forte"
da polícia.
"Temos direito a
manifestar-nos. A polícia autorizou a manifestação. Falámos com o Parlamento,
mas não temos ainda resultado", disse.
"Timor-Leste tem muitos
problemas. Falta de infraestruturas básicas, estradas, saúde e educação que
afetam o povo. O Parlamento representa o povo, mas parece que não está
preocupado com o povo, mas apenas com os interesses deles próprios",
considerou.
ASP // JMC
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