Auckland, Nova Zelândia, 11 nov
(Lusa) - A bióloga marinha Olive Andrews alerta para o impacto negativo da
exploração de petróleo e gás ao largo de Timor-Leste e sugere alterações
sazonais, de forma a mitigar os efeitos nas atividades migratórias de cetáceos
que atravessam aquela zona.
"A exploração pode causar
perturbações no habitat, particularmente através do ruído causado pelos barcos
e pelas plataformas necessárias para a extração", disse Olive Andrews,
responsável do programa marinho da organização não-governamental Conservation
International (CI), em entrevista à agência Lusa a partir de Auckland, Nova
Zelândia.
"Há certamente uma sobreposição
da distribuição de animais marinhos ameaçados e as plataformas de extração de
petróleo e gás, e este é um assunto que o Governo de Timor-Leste e a CI estão
particularmente interessados em analisar", acrescentou.
A bióloga acredita que a solução
para minimizar os efeitos da exploração passa por alterações sazonais nas
atividades de extração numa região com "alta densidade de cetáceos".
Questionada sobre que medidas
podem ser tomadas para reduzir o impacto, Olive Andrews sugeriu
"alterações sazonais da atividade das plataformas de exploração de
petróleo e gás, para permitir o movimento destes animais".
Para a bióloga, o ruído
subaquático causado pela circulação de navios é o principal problema que os
cetáceos enfrentam em Timor-Leste, e considera que a situação pode piorar com a
exploração petrolífera.
"O ruído subaquático é um
dos principais problemas que as baleias enfrentam. Não me refiro à exploração
de recursos naturais, mas ao transporte marítimo internacional, que atravessam
os estreitos vizinhos. A certa altura pode haver dez grandes cargueiros
ancorados em Díli. E
mesmo só com os geradores ligados, sem estarem em movimento, há uma grande
quantidade de ruído produzido por essas embarcações", expôs Andrews, que
lembrou uma situação vivida durante o estudo em Timor-Leste.
"Durante o nosso estudo,
estivemos perto de um grupo de 500 baleias-piloto e eu pus o hidrofone -- um
microfone subaquático -- debaixo de água para gravar o som, e não consegui
ouvir baleias. O som das baleias estava a ser mascarado pelo barulho dos navios
na zona", explicou.
Para a bióloga, esta situação
representa um problema para os cetáceos, que utilizam sinais sonoros para
comunicar, navegar e encontrar comida.
Em 2016, a CI conduziu um
estudo de cinco dias a norte de Timor-Leste que permitiu identificar 11
espécies de cetáceos e mais de 2.200 exemplares.
"Muitos dos grupos que vimos
continham várias espécies, com alguns a ter mais de 500 baleias", apontou
Andrews, que acredita que a observação de cetáceos pode ser algo "bastante
positivo" para Timor-Leste, uma vez que é algo "único" e que
acontece em poucas regiões.
Olive Andrews acredita que
Timor-Leste tem a oportunidade de observar baleias e golfinhos muito perto de
zonas costeiras e saudou os esforços do Governo timorense para a valorização da
diversidade marinha ao largo do arquipélago e para a criação de uma
"indústria de ecoturismo marinho sustentável".
"Timor-Leste tem procurado
ativamente desenvolvimentos económicos sustentáveis com base na conservação e
gestão dos seus recursos naturais", disse a bióloga, que lembrou que a CI
tem colaborado com o Governo e com as comunidades de Timor-Leste desde 2010.
De forma a garantir uma promoção
sustentável do ecoturismo, a CI já organizou várias iniciativas no arquipélago,
incluindo um 'workshop' de treino dirigido para operadores turísticos locais
com o objetivo de maximizar o valor educacional da observação de cetáceos, e
também para transmitir informações sobre como interagir com os animais sem os
perturbar.
JYO // JH
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