Xangai,
03 jul (Lusa) - O mercado acionista chinês sofreu uma violenta desvalorização
nas últimas três semanas, com o principal índice do país, o Xangai Composite, a
recuar quase 30%, correspondentes a perdas superiores a 2 biliões de euros, dez
vezes o PIB da Grécia.
Esta
queda abrupta segue-se a um período de forte crescimento do valor das ações das
cotadas chinesas, que tinham avançado desde o início do ano mais de 54% até aos
máximos de 12 de junho, quando o Xangai Composite tocou nos 5.166,35 pontos.
Isto
significa que, apesar da vincada descida das últimas três semanas, o índice de
referência chinês continua a acumular ganhos em 2015 (na ordem dos 10%).
O
recente desempenho negativo do Xangai Composite está fazer soar os alarmes
entre os investidores de todo o mundo, que têm estado com as atenções voltadas
para a situação de impasse que se vive na Grécia, e os especialistas já
avisaram que a derrocada da bolsa chinesa vai ter um impacto muito superior a
nível global quando comparada com a situação grega, seja qual for o desfecho da
mesma.
"O
que acontece na China vai ter consequências muito mais abrangentes do que
aquilo que possa acontecer na Grécia ao longo das próximas semanas ou
meses", comentou à agência Bloomberg Frederic Neumann, que lidera o
departamento de estudos económicos da Ásia no HSBC Holdings em Hong Kong.
O
responsável alertou que "com os mercados acionistas chineses a perderem a
sua vitalidade, o risco é que a procura [o consumo] bata no fundo na China.
Isso mandaria ao tapete um dos motores essenciais da economia mundial na última
década".
Ainda
assim, Frederic Neumann realçou que "como os desenvolvimentos dramáticos
na Grécia parecem demonstrar, em última análise, é difícil prever que tal seja
decisivo para a economia mundial".
Esta
opinião é partilhada por vários economistas chineses consultados pela
Bloomberg, que consideram difícil estabelecer um paralelo entre o 'sobe e
desce' da bolsa e a economia real chinesa.
Com
a crescente abertura das fronteiras da China ao capital estrangeiro, o
desempenho das ações chinesas têm cada vez mais impacto nos investidores desde
Londres a Nova Iorque e Tóquio. Mas essas repercussões estão numa linha de
horizonte temporal muito mais afastada do que as preocupações imediatas com a
Grécia, referem os especialistas.
No
fim-de-semana passado, o banco central chinês cortou as taxas de juro de
referência no país, tentando travar a onda negativa no mercado de capitais
através da libertação de liquidez para as instituições financeiras.
Contudo,
apesar de uma reação inicial positiva, tal foi sol de pouca dura e as perdas na
bolsa continuaram a acumular-se.
Só
nos últimos dias, o Xangai Composite registou uma queda de 10%, mesmo depois de
o regulador do mercado chinês ter mexido nas regras relativas à alavancagem
destinada à compra de títulos, de forma a facilitar os empréstimos aos
investidores e reduzido as exigências em termos dos colaterais exigidos aos
bancos comerciais para desenvolverem este tipo de operações.
O
governo chinês encorajou ainda os fundos de pensões estatais a investir em
ações, de forma a contrabalançar a pressão vendedora atualmente reinante, com
muitos investidores que tinham adquirido títulos através de crédito a terem que
assumir perdas e a desfazerem-se das suas posições.
Hoje,
o Financial Times escreveu que estes esforços de Pequim não estão a ser
eficazes, salientando mesmo que "por uma vez, o governo chinês parece
impotente" para controlar a derrocada do mercado de capitais.
O
The Economist também se debruçou hoje sobre a forte descida da bolsa chinesa,
considerando que estas alterações não só não produziram os efeitos pretendidos,
como acabaram por passar um sinal de desespero que acabou por assustar ainda
mais os investidores.
A
capitalização do mercado acionista chinês (ao nível do 'free float', isto é,
das ações livres para negociação em bolsa) corresponde a apenas 40% do Produto
Interno Bruto (PIB) da China. quando na maioria das economias desenvolvidas
este valor ultrapassa os 100% do PIB.
DN/JOYP
// VC
Sem comentários:
Enviar um comentário