Macau,
China, 17 jul (Lusa) -- O Instituto Cultural (IC) de Macau anunciou hoje a
descoberta de vestígios arqueológicos do que terá sido o antigo cais da cidade,
durante trabalhos de recuperação da antiga farmácia do médico Sun Yat-sen,
primeiro Presidente da China.
Em
2012 foi encontrada uma estrutura em pedra num nível abaixo das fundações
originais, na parte traseira do edifício, revelou hoje o IC. Já este ano, a
equipa de restauro voltou a encontrar uma nova estrutura de pedra, de grande
escala.
"Pela
dimensão dos blocos existentes, acredita-se que pode ter sido um pequeno cais
ou parte de uma linha de água. Sabe-se que esta zona era alagada. Há muitos
registos que tudo isto estava ligado ao Porto Interior", explicou Carlos
Marreiros, arquiteto e presidente do Conselho do Património.
A
antiga farmácia de Sun Yat-sen, com quase 120 anos, fica localizada na Rua das
Estalagens, no coração do bazar chinês, uma zona que está a uns bons dez
minutos a pé do cais atual.
"Estávamos
a trabalhar na estrutura da canalização [do edifício] quando descobrimos [as
pedras]", contou Leong Wai Man, do departamento do Património Cultural do
IC.
A
nova descoberta veio atrasar os trabalhos de recuperação e consequente abertura
de uma casa-museu.
"Esperávamos
abrir no próximo ano, mas agora é preciso ajustar, não só a exposição mas a
construção", explicou a especialista.
O
plano inicial era transformar o edifício, "um exemplo típico e
representativo dos edifícios comerciais de Macau", num "pequeno
núcleo museológico, exibindo alguma parafernália relacionada com Sun
Yat-sen", mas os novos achados arqueológicos vão implicar mudanças,
sublinhou Carlos Marreiros.
Os
especialistas não conseguem ainda datar este cais, garantindo apenas ser
anterior ao edifício, do século XIX, mas lembram que era nessa zona marítima
que se efetuava grande parte do comércio entre portugueses e chineses.
"Planeávamos
ter aqui uma exposição sobre Sun Yat-sen, talvez alguns medicamentos. Mas como
encontrámos mais achados arqueológicos vamos ter de integrar mais informação
sobre a história de Macau. Se for mesmo a frente marítima, teremos de mostrar
mais sobre isso", afirmou Leong Wai Man.
O
IC acredita que o número 80 da Rua das Estalagens tenha sido ocupado pelo
fundador da República da China, que exerceu medicina em Macau e ali abriu a
Farmácia Chong Sai, que disponibilizava medicamentos ocidentais, em 1892. A
farmácia só terá funcionado durante cerca de um ano, motivo pelo qual se perdeu
todo o recheio e mesmo a maior parte dos elementos decorativos.
Atualmente,
além das escavações, o IC tenta recuperar as paredes, feitas do tradicional
tijolo cinzento chinês, muito deteriorado devido à água salgada do subsolo. As
pinturas no teto, as janelas, portadas e frisos vão também ser recuperados.
Junto
à traseira da casa, de três pisos, foi construído um anexo, moderno, com um
elevador e casa de banho, para integrar o museu.
Para
Carlos Marreiros a aquisição do edifício em 2011 por 36 milhões de patacas (3,1
milhões de euros ao câmbio da altura) foi "a atitude correta".
"O
Governo tem muito dinheiro, a indústria do jogo tem capacitado um PIB
formidável. A cidade, que apresenta fragmentos de memórias coletivas, de
arquitetura com algum valor patrimonial, está na nossa vida. A aposta na
aquisição do património arquitetónico urbano é fundamental", sublinhou.
O
arquiteto considera que muitos outros espaços na cidade deviam ter o mesmo
destino: "Além de representarem um tipo de vida, essa arquitetura dita
chinesa do sul em Macau incorpora elementos portugueses. A aparência de certas
carpintarias parece portuguesa mas a construção é totalmente chinesa. É
curioso, não é?".
ISG
// JMR
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