Díli,
29 out (Lusa) - A voz de Amália Rodrigues ouviu-se hoje, num hotel do centro de
Díli, num concerto do pianista Júlio Resende, em que os quase 300 lugares
sentados foram insuficientes e mais de uma centena de pessoas acompanhou o
espetáculo em pé.
Um
piano emprestado por uma cidadã norte-americana que vive em Díli permitiu ao
compositor de Faro dar a conhecer "Amália por Júlio Resende", o
primeiro álbum a solo do pianista, depois de gravar os três primeiros álbuns em
quarteto e trio.
"Os
escritores escrevem prosa, poesia, contos. Enquanto escritor de música,
enquanto pensador de música isto é mais um género que exploro. Vou explorar
musicalmente o fado, como exploro o jazz e outras temáticas", explicou à
Lusa, depois do concerto.
"É
a primeira vez que a editora da Amália permite que alguém use a sua voz, o que
é para mim uma grande honra", disse, considerando de "grande
significado trazer este álbum a Timor".
Uma
oportunidade, disse, "de atuar a solo no piano, mas também de mostrar a
força dessa menina que já não está entre nós, mas que continua a encantar tanta
gente".
O
ministro do Turismo de Timor-Leste, Francisco Kalbuadi, representantes do corpo
diplomático, dezenas de portugueses e outros residentes estrangeiros de Díli,
além de muitos timorenses acompanharam o concerto, uma iniciativa conjunta da
Embaixada de Portugal e do Instituto Francês.
A
noite de piano, em que além de Júlio Resende estiveram no palco o duo
franco-japonês Ykeda, foi o primeiro evento do extenso calendário previsto para
as comemorações dos 500 anos da chegada de navegadores portugueses a Timor.
A
visita a Díli antecede a edição do seu novo álbum, que conta com a participação
da cantora espanhola Sílvia Pérez Cruz e inclui um DVD gravado nos estúdios
Valentim, de Carvalho, em Paço de Arcos, nos arredores de Lisboa, que inclui a
interpretação de cinco temas e uma conversa com o escritor Gonçalo M. Tavares.
"É
uma surpresa que vem de Espanha. A Amália gostava muito de cantar em espanhol.
Desta vez vai ser bonito ver alguém espanhol a cantar em português e ver a
força com que ela abraça o fado, e gosta de fado", afirmou.
"É
uma coisa muito bonita que faz pensar que aquilo em que somos rivais, Espanha e
Portugal, países irmãos e um pouco rivais, mas que aqui vão ser só
irmãos", disse.
Os
oitos temas que constituem o novo CD são "Uma outra Mariquinhas",
"Fado Loucura", "Da alma", "Gaivota" e
"Enfrentar o medo".
Com
Sílvia Pérez Cruz são interpretadas as canções "Lágrima",
"Cucurrucucu Paloma" e "Pare Meu".
Na
segunda metade do concerto de hoje, o pianista francês Patrick Zygmanowski,
premiado em França, e a japonesa Tamayo - que formam o duo Ykeda - partilharam
as teclas, com peças de Johannes Brahms, o "Bolero", de Maurice Ravel
e a "Rhapsody in blue", de Gershwin.
Zygmanowski,
que esteve em Díli pela primeira vez em 2003, saudou o facto de, ao contrário
de então - quanto tocou num órgão elétronico japonês -, ter agora um piano.
ASP
// MAG
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