Pequim,
01 jan (Lusa) -- A China, o país mais populoso do mundo, permite, a partir de
hoje, a todos os casais terem duas crianças, colocando um ponto final a 35 anos
da rígida política do filho único.
Uma
emenda à lei de planeamento familiar, aprovada a 27 de dezembro, e que estende
a todos os casais a autorização para terem dois filhos entrou em vigor com a
chegada de 2016, apenas dois meses depois de, em finais de outubro, a mudança
ter sido anunciada num plenário do Partido Comunista chinês.
A
mudança na política demográfica pode ter consequências significativas numa
sociedade onde muitas crianças nascidas desde a década de 1980 não têm irmãos,
sobretudo em zonas urbanas -- no campo era permitido um segundo filho se o
primeiro fosse do sexo feminino --, apesar de os especialistas chineses se
mostrarem cautelosos na hora de fazer previsões.
"Entre
finais deste ano e inícios do próximo começar-se-á a ver as primeiras mudanças.
É evidente que o número de bebés vai aumentar, mas não tanto", disse Lu
Jiehua, especialista do Instituto de Estudos da População, à agência noticiosa
espanhola Efe.
Os
futuros pais que se vão ver beneficiados pela política, precisamente os da
geração do filho único, "pensam muito hoje em dia na hora de constituir
uma família, porque é um encargo muito grande", sublinhou o especialista
sobre um país onde a educação e a saúde não são gratuitos nem tão pouco
baratos.
"Entre
2017 e 2019 pode haver um maior número de nascimentos, mas dentro de cinco anos
vai regressar ao nível de agora, porque a partir de 2020 ter-se-á que ver se se
amplia a política", vaticinou Lu Jiehua, aludindo à eventual possibilidade
de então a China permitir três ou mais filhos.
A
restrita política do filho único tem vindo a ser flexibilizada nos últimos
anos. Em 2013, por exemplo, foi aliviada com a ampliação do número de exceções
em que um casal poderia ter um segundo descendente, pelo que a medida pressupõe
mais um passo nessa tendência, não sendo vista como drástica.
Em
todo o caso, o Governo chinês estima que, a partir de hoje, 100 milhões de
famílias beneficiem da "política dos dois filhos".
O
especialista Xiang Junyong, da Universidade Popular de Pequim, também foi
prudente na hora de avançar previsões sobre o aumento anual do número de
nascimentos como consequência da nova política, apontando, em declarações à
agência noticiosa espanhola, para um intervalo de "entre três e oito
milhões a mais".
Atualmente
registam-se cerca de 15 milhões de nascimentos por ano na China, mas estima-se
que até 2020 esse número dê um "pulo" para 20 milhões, um número que
o país nunca alcançou desde 1997.
"A
curto prazo vai haver um aumento da população, mas mais à frente não vai haver
assim tantas mudanças", prevê Xiang, ao explicar que muitos dos
beneficiados são pessoas que nasceram nos anos 70 que, no caso das mulheres
pelo menos, se encontram nos últimos anos de fertilidade.
A
nova "China dos casais" põe termo a 35 anos da controversa política
"um casal, um filho", posta em marcha em 1979 pelo regime comunista
chinês para reduzir os problemas de superpopulação de um país que, agora, tem
quase 1.400 milhões de habitantes -- mais do que toda a Europa, África ou toda a
América.
DM
(JSD) // SO
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