sábado, 12 de março de 2016

Almanaque publicado em português resiste em Goa há 113 anos


Macau, China, 12 mar (Lusa) -- Uma família em Goa publica há 113 anos um almanaque em português sob a forma de calendário de parede, um projeto que já vai na quarta geração e que o advogado Eric Correia, neto do fundador, quer passar aos filhos.

"Foi algo que passou de geração em geração na nossa família e que precisamos de continuar", disse à agência Lusa Eric Correia, que há cinco anos assumiu a continuidade do projeto, em conjunto com a mulher, Sheila.

De página única, o "Almanac de Parede" de 2016 contém desde as datas das feiras e festas anuais, festividades hindus, feriados, as diferentes fases da lua e meteorologia de acordo com as estações do ano, até à tabela de preços dos correios para envios dentro e fora da Índia, contou Eric Correia.

A história repete-se a cada final de ano. Depois da recolha de informação, Eric e a mulher enviam o "Almanac de Parede" para a gráfica, para que fique "pronto a pendurar nas casas das pessoas no início de janeiro".

A preparação tornou-se uma atividade familiar, com os dois filhos do casal, de oito e 15 anos. "Quando vêm as provas da gráfica, fazemos a revisão em conjunto. A minha mulher vai tentando falar português com a minha filha, Ana Paula", acrescentou.

O "Almanac de Parede" foi fundado em 1903 por Joaquim Filipe Roque Correia e durante muitos anos impresso na Tipografia Progresso em Margão (Goa), onde também nasceram o "Livro de Orações" e o "Livro de Cozinha Goesa", cujas edições foram entretanto descontinuadas.

Já o almanaque continuou a ser impresso todos os anos após a morte do respetivo fundador, pelos tios de Eric: primeiro por Domingos Xavier Carlos Correia (farmacêutico) e, a partir de 1995, por Elsa Ena Correia, que tinha sido diretora de uma escola primária do governo.

"O meu avô faleceu quando eu tinha apenas um ano, em 1967. Mas eu lembro-me de ser muito jovem e de já ajudar no almanaque", afirmou Eric Correia.

"As pessoas continuam interessadas. Imprimimos mil exemplares anualmente e poucas cópias ficam por vender", adiantou Eric Correia, confiante na continuidade e modernização do projeto, sobretudo com a Internet.

Por exemplo, Eric conta que depois de o Governo descontinuar o serviço de telegramas, esta secção foi substituída no almanaque por outra intitulada "Importantes Portais de Goa", com os "sites" oficiais de Goa, dos jornais locais e nacionais, e até do portal do Vaticano.

O "Almanac de Parede" custa atualmente 10 rupias (pouco mais do que dez cêntimos de euro). A maior parte dos mil exemplares impressos "são distribuídos em quatro ou cinco livrarias" da cidade de Margão. Também são enviados para a Fundação Oriente, em Panjim, para Mapuca, Goa, e 125 exemplares seguem para Damão.

"O objetivo não é fazer um grande lucro, é manter o almanaque vivo para que as pessoas continuem interessadas em comprá-lo", disse Eric Correia.

FV // VM

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