Díli,
12 mar (Lusa) - O maior partido timorense, o Congresso Nacional de Reconstrução
Timorense (CNRT) informou o Partido Democrático (PD) - terceira força política
- de que o afastou da coligação que apoia o Governo até 2017 e onde permanece
apenas a Frente Mudança.
A
decisão, comunicada por carta à direção do PD, e que vai ser debatida este
fim-de-semana por este partido, poderá ter consequências imediatas na
composição do executivo, onde há pelo menos cinco membros que pertencem a esta
formação política.
É
o caso do ministro Coordenador dos Assuntos Sociais e ministro da Educação,
Antonio da Conceição, do ministro das Obras Públicas, Transportes e Telecomunicações,
Gastão de Sousa e do ministro do Comércio, Industria e Ambiente, Constâncio
Pinto.
Igualmente
militantes do PD são o vice-ministro do Comércio, Nuno Pereira, e o secretário
de Estado da Administração Estatal, Samuel Mendonça.
Recorde-se
que desde as eleições de 2012 o Governo timorense era apoiado por uma coligação
de três das quatro forças parlamentares, CNRT, PD e FM, com a Fretilin (segundo
maior partido) a apoiar as linhas gerais da ação governativa, incluindo
programa do Governo e orçamento.
Esse
Bloco da Coligação, desde 2012, seguiu-se a uma Aliança de Maioria Parlamentar
(AMP) que apoiou o Governo entre 2007 e 2012.
Dionísio
Babo, secretário-geral do CNRT, justifica em carta remetida à direção do PD, a
que a Lusa teve acesso, que a relação entre os dois partidos se deteriorou
desde a morte do antigo presidente do PD, Fernando La Sama de Araújo.
Babo,
que é também ministro de Estado, Coordenador dos Assuntos da Administração do
Estado e da Justiça e ministro da Administração Estatal, argumenta que os novos
dirigentes não têm respeitado o "compromisso" de La Sama com o CNRT,
questionando declarações e posturas do PD, nomeadamente nos debates orçamentais
e depois do veto do Presidente da República ao texto orçamental.
Posições,
sublinha a carta, que "não defendem o espirito ou o interesse da
coligação, uma situação que se agravou, sustenta, desde o polémico discurso que
o chefe de Estado proferiu no Parlamento, no final de fevereiro, marcado por
críticas aos dirigentes do CNRT, Xanana Gusmão, e da Fretilin, Mari Alkatiri.
Explica
que a situação foi analisada a reunião da Comissão Política Nacional (CPN) do
CNRT que considerou que o PD "deixou de obedecer ao compromisso alcançado
no âmbito do Bloco da Coligação.
Uma
das últimas polémicas entre os partidos ocorreu depois das bancadas do CNRT e
da Fretilin terem defendido a criação de uma comissão eventual para investigar
as declarações do chefe de Estado, Taur Matan Ruak que, entre outros aspetos,
disse que a atual proximidade entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri só serviu
para dar benefícios a familiares e amigos.
Um
deputado do PD, Virgílio da Costa Hornai, questionou essa proposta,
considerando que não se justificava porque além de o PR gozar de imunidade
pode, sempre que o pretender, falar no Parlamento Nacional.
Instado
a comentar a decisão, um dirigente do PD disse à Lusa que o assunto vai ser
debatido este fim-de-semana pelo partido, rejeitando porém as críticas do CNRT,
sublinhando que "uma coligação não significa que todos têm que dizer o
mesmo".
"Cada
um tem a sua posição e pode apresenta-la. Mas, no fundamental, sempre que foi
requerido um voto, para o programa ou o orçamento, nós viabilizámos. Sempre
fizemos isso", disse o dirigente.
"Consideramos
absolutamente infundamentadas estas acusações", disse.
Ainda
que este aspeto não tenha sido referido na carta do CNRT, dirigentes deste
partido ouvidos pela Lusa admitem que há algum descontentamento pelo que
consideram ser a proximidade e entre o PD e o Presidente da República e em
particular o Partido de Libertação Popular (PLP), força política que poderá
apoiar uma eventual candidatura de Taur Matan Ruak nas eleições legislativas.
Uma
acusação rejeitada pelo dirigente do PD, que garante que "nunca houve
qualquer contacto entre o PD e o PLP" e que a relação com o chefe de
Estado é institucional e ocorre igualmente com as demais bancadas.
"A
nossa posição no parlamento não foi de defesa do Presidente. Apenas dissemos
que o que ocorre atualmente é um problema que envolve dois veteranos da luta e
tem que ser resolvido pela vida do diálogo", disse.
"Estamos
a ser afastados por outro motivo. Apenas porque não defendemos o presidente do
CNRT", argumentou.
ASP
// SO
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