António Guterres*, opinião
Continuamos
ser o pequeno David vivido entre dois vizinhos gigantes. Mas o David, Rei de
Israel que eu conheço, era um simples pastor que soube esperar o tempo. Um
guerreiro que sabe de onde veio e para onde quer ir. Eu penso que a história de
pequeno David e gigante Golias está repleta de lições para nós. Que cada
vitória conquistada seja para glória colectiva, e não para nós mesmos.
Em
todo o caso, é preciso encontrar urgentemente uma solução para o equilíbrio entre
o "poder carismático-político e o poder técnico-racional". Caso
contrário, o nosso sistema de governação não se adapta nunca à democracia que
sempre queremos para este país. Tenho-o dito, desde há muito tempo que o
processo de transição de liderança foi precisamente para encontrar uma solução
para o governo, não um governo de solução para os problemas do país! Temos um
governo inspirado em geração nova liderado por um grande homem chamado Dr Rui
Araújo, mas quando não se tem equipa não se pode fazer milagres!
Timor-leste
não é um país de difícil governar. Tenho, por vezes, algumas dúvidas sobre como
os representantes do país exercem as suas competências. Há uma grande
discrepância entre capacidade de criar ideias e competência de implementar
ideias. O perigo de insucesso da governação mora aqui. Os partidos têm de estar
a altura do desafio. Se não têm, é e será uma desgraça! Porque para governar,
não basta ter sentido de politiquero, é preciso estar preparado.
Atual
crise é fruto disso. Temos dificuldades de nos adaptar ao processo evolutivo da
globalização. Quando decidimos desafiar os nossos limites, tínhamos consciências que a única forma de ultrapassar estes obstáculos é estar unidos e
ter uma cultura de compromisso, em função da realidade. Estamos em desvantagens
sob o ponto de vista social e económico no contexto regional! Há um ditado que
diz: "podes escolher amigos mas não podes escolher vizinhos".
O
país está numa fase em que o "jogo de passa culpas " tem de acabar e
dar espaço ao " Diálogo ", reflectindo sobre o porquê nós não
conseguimos sair do " ciclo de impasse". A origem da crise está muito
mais atrás. E está fortemente associada à justiça e de confiança às
instituições do Estado. Há um aumento de indignação e de desconfiança sobre o
nosso sistema judiciário. Que é um pilar e um espelho da nossa democracia. Uma
referência ético-politica de um Estado de Direito. Temos um Ministro da Justiça
que não está a altura do desafio, continuando a não encontrar medidas
necessárias para tornar o setor da justiça mais transparente e independente.
Ora, isto, naturalmente coloca em causa o normal funcionamento das instituições
do Estado em especial a própria democracia!
O
futuro governo terá que ser um defensor da "boa governação". Que
saiba representar da melhor forma o "sistema da governação". Um
sistema em prol do "Estado social". Se não for por este caminho,
então, estamos diante de um "sistema anti social". E teremos que
desobedecer! Ninguém é escravo da sua própria lei. Este Estado não pode gerir e
administrado por mãos invisíveis. Para tal, temos que encontrar um
"governo de solução". Dada a atual conjuntura política, sobretudo os
comportamentos dos eleitores, creio que a formação do futuro governo passará
por entendimento em diferentes níveis entre a liderança histórica. Uma
transição saudável será uma transição liderada por uma liderança de consenso.
Que reúne condições para decidir e ter coragem para implementar a política de
reforma. A começar pelas reformas estruturais.
Tenho
dito.
Abraços
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