Díli,
04 abr (Lusa) - As populações das zonas costeiras dos distritos timorenses de
Lautem e Viqueque são atualmente as mais afetadas pelo impacto do fenómeno do
El Niño em Timor-Leste, com risco elevado de falta de alimentos, segundo um
relatório.
O
último relatório da organização Seeds of Life, que tem vindo a monitorizar o
impacto do fenómeno El Niño, refere que estas regiões estão numa situação de
emergência e "requerem assistência imediata".
Paralelamente
o estudo recomenda monitorização da ilha de Ataúro e do enclave de Oecusse,
especialmente nas suas zonas costeiras, devido a menores colheitas.
O
El Niño é o nome dado a um padrão climático associado a um longo período de
aquecimento no Pacífico tropical central e oriental.
Os
fenómenos El Niño são alterações de entre 12 e 18 meses na distribuição da
temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, que têm efeitos na
meteorologia da região.
Especialistas
referem que o fenómeno deste ano - um dos três maiores já registados - começou
em maio do ano passado, com uma intensidade entre "moderada e forte",
e deverá prolongar-se pela primeira metade de 2016.
No
caso de Timor-Leste o fenómeno adiou o começou da estação das chuvas, que está
quase a terminar, causando dificuldades a muitos dos agricultores do país,
especialmente nas culturas de arroz e milho e problemas alimentares para muitas
famílias.
O
último relatório conjunto das organizações Care, Caritas, Oxfam, PLAN e World
Vision, nota, por exemplo, que 62% dos inquiridos reportaram chuvas abaixo da média,
com 26% a terem que mudar a sua fonte primária e dois terços a recorrerem a
fontes de água não protegida (rio ou lagoa).
Cerca
de 70% dizem não ter água para as suas culturas e 44% explica estar com uma
dieta ainda mais restrita do que o normal, com mais de metade a referir uma
redução no número de refeições.
Se
nas culturas do arroz e do milho a falta de chuva foi e é um problema em alguns
locais, as chuvas mais intensas que se têm feito sentir em algumas das
principais zonas montanhosas agrícolas, são um problema para a produção de
verduras e legumes, com muitos agricultores a relatarem cheias e a destruição
da sua produção.
Peter
Dougan é o responsável da empresa FarmPro que trabalha com cerca de 60
agricultores das zonas de Ermera e Bobonaro, fornecendo verduras e legumes aos
principais supermercados, hotéis e restaurantes de Díli, duas vezes por semana.
Anualmente,
por esta altura, explica, é comum que se verifiquem algumas carências de
verduras, com as chuvas intensas a danificarem e a reduzirem produção de
brócolos, couve chinesa (bok choi), couve-flor, alface ou tomate.
Uma
situação "normal" mas que, insiste, pode começar a ser corrigida com
estratégias para lidar com a época das chuvas, nomeadamente produções cobertas
que começam a ser feitas em alguns pontos do país mas são ainda insuficientes
para o mercado.
"Os
produtores de verduras debatem-se sempre por esta altura com demasiada chuva. Inundações ou lama que destrói as produções. Algumas das que crescem são depois
atingidas por insetos ou doenças", explicou à Lusa.
"Produtos
que gostam de chuva, como a beringela ou o kancun (variedade local de
espinafre), dão-se bem, mas os outros têm grandes dificuldades", explicou.
Isso
nota-se já nos supermercados de Díli onde o aumento dos consumidores e a menor
oferta deixou as prateleiras de verduras e legumes de vários completamente
vazias.
Num
deles, visitado hoje pela Lusa, só havia à venda couve roxa e abóbora.
"É
preciso desenvolver novas estratégias para lidar com a época das chuvas que é
um fenómeno anual", disse Peter Dougan.
ASP
// PJA
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