Hong
Kong, China, 05 jul (Lusa) -- As autoridades da China divulgaram hoje um vídeo
para tentar provar alegados crimes do livreiro de Hong Kong Lam Wing-kee, que
esteve desaparecido durante meses e disse ter sido detido por agentes chineses
e mantido incontactável.
A
versão dos chineses sobre o desaparecimento do livreiro a uma delegação de Hong
Kong foi divulgada num vídeo que dizem documentar a vida de Lam durante o
período que esteve sob a sua custódia, noticia o jornal South China Morning
Post.
A
delegação do Governo de Hong Kong está em Pequim para discutir a notificação de
detenções de residentes na cidade por autoridades chinesas, depois de cinco
livreiros da região, que vendiam e publicavam livros críticos de Pequim, terem
desaparecido durante meses e reaparecido sob custódia das autoridades chinesas.
O
ministro da Segurança Pública da China, Guo Shengkun, esteve presente na
reunião.
De
acordo com o vídeo, a que o jornal de Hong Kong teve acesso, Lam violou as
condições da sua fiança ao recusar regressar à China, onde estava a ser
investigado por vender livros proibidos.
Lam
regressou a Hong Kong no mês passado, mas só tinha sido autorizado a ficar por
um curto período. Segundo o próprio, as autoridades chinesas queriam que lhes
levasse um disco rígido com dados dos clientes da livraria onde trabalhava.
Foi
neste regresso a Hong Kong que, numa conferência de imprensa, contou a forma
como foi detido e mantido em cativeiro e disse que não voltaria à China, como
lhe tinha sido pedido.
O
Ministério da Segurança Pública disse que Lam é responsável pelo crime de
negócio ilegal envolvendo 368 transações de livros proibidos na China.
As
autoridades chinesas afirmam que as condições da fiança de Lam o obrigam a
permanecer na cidade de Shaoguan.
"Se
ele se recusar a regressar, o departamento [de segurança pública] vai ter de
rever as medidas de coação de acordo com a lei", indica um comunicado do
departamento, citado pelo jornal. A medida mais grave pode implicar prisão.
O
vídeo de 15 minutos mostra Lam a confessar ter violado as leis da China.
"Porque
violei as disposições legais da China, tenho muitos remorsos. Espero que o
Governo chinês seja complacente comigo após este incidente porque estou certo
que não voltarei a cometer o mesmo ato", diz Lam no vídeo.
É
também possível ver Lam a comer, a ser-lhe cortado o cabelo cortado e a ser-lhe
medida a tensão arterial, com um narrador a afirmar que os direitos do livreiro
estavam a ser "totalmente protegidos".
No
vídeo, o livreiro surge ainda a assinar uma declaração, poucos dias depois de
ser detido: "Eu, Lam Wing-kee, não preciso de me encontrar com a minha
família e, por enquanto, não irei contratar um advogado".
Imagens
de uma câmara de videovigilância mostram Lam a "confessar pormenores dos
crimes", como, por exemplo, que era abordado por compradores da China
através de uma rede social, que lhes dava uma lista de títulos e que a partir
daí era efetuada a venda através de uma conta no Banco da China.
Em
Hong Kong, Lam revelou que foi vendado e algemado depois de ser travado e
detido na fronteira, que foi levado para Ningbo, na província de Zhejiang, onde
foi mantido num pequeno quarto e interrogado, tendo sido proibido de contactar
familiares e um advogado.
Outros
livreiros surgiram em televisões chinesas a fazerem declarações que familiares
e organizações de defesa dos direitos humanos consideram serem falsas
confissões de crimes, feitas sob coação.
ISG//APN
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