Organizações
de direitos humanos criticam a nomeação para coordenar cinco ministérios do
general Wiranto, um dos militares acusados pela ONU de crimes contra a
Humanidade durante a ocupação de Timor-Leste
A
remodelação governamental decidida pelo presidente Joko “Jokowi” Widodo
continua a gerar críticas no que respeita à nomeação do general Wiranto como
ministro para a coordenação dos Assuntos Políticos, Legais e de Segurança. Uma
tarefa que inclui as pastas dos Negócios Estrangeiros, Interior e Defesa.
“Junta
um insulto à injúria. No dia seguinte a ordenar uma nova ronda de execuções, o
presidente Jokowi decidide por o controlo do aparelho de segurança em alguém
que foi acusado de crimes contra a humanidade por um tribunal da ONU”. Foi
desta forma que o diretor regional da Amnistia Internacional, Josef Benedict,
reagiu à remodelação, anunciada a 27 de julho. O responsável para o Sudoeste
Asiático e Pacífico salienta no site da organização o profundo “desrespeito dos
direitos humanos”, apenas 24 horas depois da decisão presidencial de executar
mais 14 pessoas.
A
nomeação de Wiranto apanhou muitos analistas de surpresa. Depois da tentativa
falhada de concorrer à presidência do país em 2014, Wiranto tem mantido uma
presença discreta na cena política nos últimos dois anos. Mantém-se há 12 anos
na liderança do Hanura, o Partido da Consciência Popular que fundou depois da
derrota eleitoral de 2004.
O
general nunca deixou a atividade política apesar das várias acusações
internacionais sobre o seu papel durante a ocupação de Timor-leste entre dezembro
de 1975 e outubro de 1999. Decidida pelo presidente Suharto, a invasão e
consequente ocupação de Timor-leste terá originado a morte de, pelo menos, 100
mil pessoas num território com cerca de um milhão de habitantes.
RETROCESSO
NOS DIREITOS HUMANOS
O
governo do mais populoso país de maioria muçulmana justificou a nomeação de
Wiranto com o facto da Indonésia ser um dos principais alvos dos terroristas,
incluindo ativistas internos ligados ao Daesh.
Para
o diretor para a Ásia do grupo de defesa de direitos humanos Human Rigths
Watch, “a alegada cumplicidade no assassínio, incêndio e expulsão forçada em
Timor- Leste em 1998 habilitam Wiranto a um julgamento”. “Não para um lugar no
Governo”, disse Phelim Kane ao “Jakarta Post”. O general também está envolvido
em acusações na própria Indonésia, como a morte de quatro estudantes nas
Universidade de Trisakti, na mesma altura.
“É
um retrocesso”, afirmou, por seu turno Andreas Harsono, um investigador da
mesma ONG ao “South China Morning Post.Harsono salienta que agenda presidencial
soobre os direitos humanos está comprometida.
MERCADOS
SAÚDAM REGRESSO DE INDRAWATI
Wiranto
sucede Luhut Pandjaitan outro militar da “linha dura”. Para muitos
observadores, o antigo ministro terá sido afastado pelo presidente na sequência
das controversas declarações no âmbito de uma investigação de um massacre de
militantes comunistas nos anos 1960. Em junho, Pandjaitan declarou aos juízes
que investigam o caso estar plenamente convicto “que os cuministas mereciam
morrer”.
A
nota positiva da remodelação governamental de Jokowi foi a nomeação para a
pasta das Finanças de Sri Mulyani Indrawati, uma reputada economista que estava
na direção do Banco Mundial. Indrawati regressou a Jakarta para voltar a ocupar
o cargo no ministério que abandonou em 2014 depois de grandes críticas por
parte dos setore mais conservadores do governo.
Hélder
C. Martins – Expresso – Na foto: Wiranto fotografado em Timor-Leste enquanto
comandante da força de ocupação indonésia / Reuters
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