Díli,
31 out (Lusa) - Os líderes do segundo partido timorense, Fretilin,
manifestaram-se hoje preocupados com irregularidades e "grande
desorganização" que dizem ter ocorrido em vários pontos de Timor-Leste nas
eleições locais de sábado.
"Houve
uma grande desorganização. Entregaram aos sucos e às aldeias a responsabilidade
pela organização disto e houve muitos problemas, alguns causados pela própria
lei da eleição", disse à agência Lusa Mari Alkatiri, secretário-geral da
Fretilin.
"Eu
próprio quando fui votar vi que uma das candidatas a chefe de suco estava na
mesa a controlar. Imagine isso a acontecer num ato eleitoral qualquer",
sublinhou.
Não
foi, até agora, possível à Lusa obter comentários das autoridades timorenses
responsáveis pelo ato eleitoral de sábado, não tendo também sido ainda
fornecidos quaisquer dados oficiais com resultados.
Alkatiri
confirmou que enviou mensagens ao primeiro-ministro e ao ministro da
Administração Estatal para alertar para os problemas, explicando que algumas
das situações foram provocadas pela própria lei.
"Decidiram
fazer tudo listas abertas mas isto é complicado em mais de 2000 aldeias e 442
sucos. E os problemas evidenciaram-se nas segundas rondas de votação nas
aldeias, onde houve candidatos eleitos por apenas 10% dos votos", afirmou.
A
lei prevê segunda volta na eleição de chefes de aldeia quando um candidato não
consegue pelo menos 50% dos votos, no mesmo dia (sábado), independentemente de
quantos eleitores estivessem presentes.
No
caso dos chefes de suco, a segunda volta está prevista para 24 de novembro.
"A
lei já era um pouco maluca. Temos agora de fazer um balanço completo do que
aconteceu, mas tentar corrigir na base da mesma lei, onde estas situações são
legais, não serve de muito. Para corrigir poderemos ter de fazer revisão à
lei", disse.
Alkatiri
disse que a eleição foi legítima "nos candidatos eleitos à primeira
volta" e que foi "legalmente correta na segunda volta" no caso
das aldeias.
"Estamos
de mãos atadas. Algumas pessoas foram eleitas com apenas 10% dos votos. Pode
ser complicado para alguém que vai ficar cinco ou seis anos no cargo e que a
própria comunidade pode nem reconhecer", afirmou.
Para
Mari Alkatiri, "é uma lição para as pessoas aprenderem que não é só a lei
que confere a legitimidade": "É a realidade e o contexto que a
confere também. Porque senão os ditadores também eram legítimos", disse,
acrescentando que é uma lição também para o processo de desconcentração e
autonomia administrativa".
"Começaram
a dar autonomia às comunidades de base mas elas precisam de capacidade
organizativa e administrativa. Sem isso não podem ter autonomia",
considerou.
Francisco
Guterres (Lu-Olo), presidente da Fretilin, deixou preocupações idênticas numa
mensagem na sua página pessoal do Facebook em que questionou a legitimidade de
algumas das votações de sábado.
Pouca
clareza sobre o número total de eleitores, confusão com os três boletins de
voto (para chefe de aldeia, chefe de suco e delegados) e sobre o número de
candidatos, foram alguns dos problemas apontados pelo presidente da Fretilin.
Destacou ainda o caso da eleição de chefes de aldeia escolhidos na segunda
volta.
Lu-Olo,
que deseja "sucesso e transparência a este processo", dirige-se às
autoridades e apela a que analisem com cuidados as várias situações detetadas
para garantir que a eleição respeita a vontade da maioria.
No
total, 2.071 pessoas, incluindo 319 mulheres, apresentaram-se como candidatos à
eleição das autoridades locais e tradicionais dos 442 sucos do país, segundo
dados do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Os
cerca de 720 mil eleitores foram chamados a escolher os responsáveis nos 442
sucos (equivalentes a freguesias), que passam a ser geridos por quatro
estruturas: Conselho de Suco, chefe de Suco, Assembleia de Aldeia e chefe de
Aldeia.
ASP
// MP
Sem comentários:
Enviar um comentário