Díli,
02 fev (Lusa) - Discursos populistas e demagógicos sobre a corrupção em
Timor-Leste, com posturas "gratuitas e pouco informadas" e generalizações
excessivas, são negativos para o país e pouco eficazes para combater o
problema, disse hoje o presidente do Parlamento Nacional.
"Há
vários perigos que um discurso anticorrupção gratuito e pouco informado pode
comportar", disse Adérito Hugo da Costa no arranque de uma conferência
organizada pelo parlamento sobre corrupção.
"Generalizações,
sempre injustas e perigosas, que atacam indiscriminadamente a ineficiência do
Estado, sublinham o mau carácter individual dos funcionários públicos, desconsiderando
muitas vezes outros fatores que contribuem para uma ausência de sentido de
igualdade e de relação com o público", são exemplos desses perigos, disse
ainda.
Adérito
Hugo da Costa lembrou que em períodos eleitorais como o que se avizinha em
Timor-Leste - onde este ano há eleições presidenciais e legislativas - há uma
"tendência de politização" do tema da corrupção, dificultando o
"debate sério e responsável".
Isso
leva, considerou, a que surjam "soluções imediatistas, demagógicas e
perigosas" apresentadas "em nome da salvação da pátria
corrompida", generalizando os maus exemplos ou ignorando que o problema da
corrupção não é exclusivo de Timor-Leste.
"Eu
próprio, sou testemunha diária do empenho e do esforço permanente de muitos dos
meus colegas deputados, dos funcionários públicos, com quem tenho o privilégio
de trabalhar, e dos membros do Governo que se esforçam diariamente para que
Timor-Leste se desenvolva de um modo equitativo e justo para todos",
afirmou.
"Claro
de vez em quando surge um mau exemplo. Mas uma árvore não faz a floresta, e
quando cai, infelizmente faz mais barulho que a floresta que cresce",
disse.
Hugo
da Costa destacou a multidimensionalidade do problema da corrupção, que
atravessa barreiras nacionais, políticas, ideológicas e sistemas políticos,
sendo "um fenómeno global e que, lamentavelmente, ocorre em todo lado e
desde tempos imemoriais".
Por
isso, insistiu, "o seu combate não se pode fazer só ao nível da repressão,
mas também ao nível da prevenção", devendo ser um combate holístico que
envolve várias práticas institucionais, culturais, coletivas e individuais
muito complexas".
"O
combate contra a corrupção tem que estar associado a uma forte noção de
cidadania e ao reforço do princípio do interesse coletivo sobre o individualismo
do interesse privado. E é por este motivo que o combate contra a corrupção tem
que envolver um debate sobre o interesse público, democracia, cidadania,
direito, e dignidade do homem", disse.
"Qualquer
debate sobre corrupção fora destas órbitas tende a ser populista, opaco e
perigosamente demagógico e moralista", afirmou ainda.
O
responsável parlamentar afirmou que o debate deve ser "elevado, sério e
condigno" onde se afastem as "tentações da justiça de
pelourinho" porque, disse, "a justiça não se faz nas ruas ou nos
meios de comunicação social" mas sim nos "Tribunais e de acordo com a
Constituição e as leis".
Hugo
da Costa relembrou que o fenómeno da corrupção "invade grandes espaços do
tecido social, sem que as pessoas que sofrem as suas consequências tenham
sempre a possibilidade de reivindicar justiça e responsabilidades, tornando-se
os mais frágeis cada vez mais dependentes".
O
combate, disse, não pode justificar "uma luta que cause perturbação
social, de um modo desproporcional, ou colocar em causa direitos fundamentais
consagrados na Constituição da República".
A
conferência internacional sobre "Direitos, Liberdades e Garantias versus o
Combate à corrupção" reúne especialistas de vários países e decorre até
sexta-feira em Díli.
ASP//ISG
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