quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Discurso populista sobre corrupção prejudica Timor-Leste - Presidente do Parlamento

Díli, 02 fev (Lusa) - Discursos populistas e demagógicos sobre a corrupção em Timor-Leste, com posturas "gratuitas e pouco informadas" e generalizações excessivas, são negativos para o país e pouco eficazes para combater o problema, disse hoje o presidente do Parlamento Nacional.

"Há vários perigos que um discurso anticorrupção gratuito e pouco informado pode comportar", disse Adérito Hugo da Costa no arranque de uma conferência organizada pelo parlamento sobre corrupção.

"Generalizações, sempre injustas e perigosas, que atacam indiscriminadamente a ineficiência do Estado, sublinham o mau carácter individual dos funcionários públicos, desconsiderando muitas vezes outros fatores que contribuem para uma ausência de sentido de igualdade e de relação com o público", são exemplos desses perigos, disse ainda.

Adérito Hugo da Costa lembrou que em períodos eleitorais como o que se avizinha em Timor-Leste - onde este ano há eleições presidenciais e legislativas - há uma "tendência de politização" do tema da corrupção, dificultando o "debate sério e responsável".

Isso leva, considerou, a que surjam "soluções imediatistas, demagógicas e perigosas" apresentadas "em nome da salvação da pátria corrompida", generalizando os maus exemplos ou ignorando que o problema da corrupção não é exclusivo de Timor-Leste.

"Eu próprio, sou testemunha diária do empenho e do esforço permanente de muitos dos meus colegas deputados, dos funcionários públicos, com quem tenho o privilégio de trabalhar, e dos membros do Governo que se esforçam diariamente para que Timor-Leste se desenvolva de um modo equitativo e justo para todos", afirmou.

"Claro de vez em quando surge um mau exemplo. Mas uma árvore não faz a floresta, e quando cai, infelizmente faz mais barulho que a floresta que cresce", disse.

Hugo da Costa destacou a multidimensionalidade do problema da corrupção, que atravessa barreiras nacionais, políticas, ideológicas e sistemas políticos, sendo "um fenómeno global e que, lamentavelmente, ocorre em todo lado e desde tempos imemoriais".

Por isso, insistiu, "o seu combate não se pode fazer só ao nível da repressão, mas também ao nível da prevenção", devendo ser um combate holístico que envolve várias práticas institucionais, culturais, coletivas e individuais muito complexas".

"O combate contra a corrupção tem que estar associado a uma forte noção de cidadania e ao reforço do princípio do interesse coletivo sobre o individualismo do interesse privado. E é por este motivo que o combate contra a corrupção tem que envolver um debate sobre o interesse público, democracia, cidadania, direito, e dignidade do homem", disse.

"Qualquer debate sobre corrupção fora destas órbitas tende a ser populista, opaco e perigosamente demagógico e moralista", afirmou ainda.

O responsável parlamentar afirmou que o debate deve ser "elevado, sério e condigno" onde se afastem as "tentações da justiça de pelourinho" porque, disse, "a justiça não se faz nas ruas ou nos meios de comunicação social" mas sim nos "Tribunais e de acordo com a Constituição e as leis".

Hugo da Costa relembrou que o fenómeno da corrupção "invade grandes espaços do tecido social, sem que as pessoas que sofrem as suas consequências tenham sempre a possibilidade de reivindicar justiça e responsabilidades, tornando-se os mais frágeis cada vez mais dependentes".

O combate, disse, não pode justificar "uma luta que cause perturbação social, de um modo desproporcional, ou colocar em causa direitos fundamentais consagrados na Constituição da República".

A conferência internacional sobre "Direitos, Liberdades e Garantias versus o Combate à corrupção" reúne especialistas de vários países e decorre até sexta-feira em Díli.

ASP//ISG

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