Pequim,
05 mar (Lusa) -- O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, advertiu hoje que os
apelos para a independência de Hong Kong "não vão levar a lugar
nenhum", deixando idêntico reparo relativamente a qualquer movimento
secessionista por parte de Taiwan.
O
jornal de Hong Kong South China Morning Post destaca tratar-se de um gesto sem
precedentes, dado que foi a primeira vez que a noção de "independência de
Hong Kong" foi mencionada -- e publicamente condenada -- no relatório
anual do Governo apresentado pelo primeiro-ministro chinês na abertura da
sessão anual da Assembleia Nacional Popular, constitucionalmente "o
supremo órgão do poder de Estado".
"Iremos
continuar a agir em estrita conformidade com a Constituição da China e com as
Leis Básicas das Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e de Macau, e
iremos garantir que o princípio 'Um País, dois sistemas' é aplicado com firmeza
sem ser deformado ou distorcido", refere o relatório anual.
O
discurso do primeiro-ministro chinês tem lugar precisamente três semanas antes
das eleições, marcadas para o próximo dia 26, para escolher o chefe do
Executivo de Hong Kong, o qual é eleito por um comité eleitoral formado por
1.200 membros, representativos de diferentes setores da sociedade, que é
dominado por elites ou interesses pró-Pequim.
Este
ano assinala-se o 20.º aniversário da transferência de soberania de Hong Kong
do Reino Unido para a China.
No
ano passado, surgiram na cena política da antiga colónia britânica novos
partidos com aspirações independentistas, como o Demosisto, que defende a
realização de um referendo sobre a "autodeterminação" e o futuro
estatuto de Hong Kong após 2047.
Em
setembro, o Demosisto elegeu Nathan Law, de 23 anos, como o mais novo deputado
de Hong Kong.
Joshua
Wong, que se tornou o rosto dos protestos pró-democracia em Hong Kong em 2014,
cofundou o partido, mas não se candidatou por não a idade mínima exigida de 21
anos.
Além
disso, em outubro, estalou uma controvérsia em Hong Kong, depois dos dois
deputados pró-independência Sixtus Baggio Leung Chung-hang e Yau Wai-Ching se
terem comprometido a servir a "nação de Hong Kong" e pronunciado
"China" de forma considerada ofensiva entre outras alterações ao
discurso quando prestaram juramento no Conselho Legislativo (LegCo,
parlamento).
Tal
levou o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China a considerar
que os dois deputados não podiam repetir o juramento do cargo e tomar posse,
uma decisão que se antecipou à que era aguardada pelos tribunais da antiga
colónia britânica.
A
justiça de Hong Kong concordou depois com a rara interpretação de Pequim e os
dois deputados perderam mais tarde os seus assentos no LegCo, depois de os
juramentos terem sido considerados "inválidos".
Já
relativamente a Taiwan, o primeiro-ministro chinês também advertiu que a China
se opõe firmemente ao "separatismo": "Vamos resolutamente
contrariar e conter as atividades separatistas pela independência de
Taiwan".
"Nunca
iremos tolerar qualquer atividade, sob qualquer forma ou nome, que tente
separar Taiwan da mãe-pátria", frisou Li Keqiang, sustentando que a China
continuará a "defender o 'Consenso de 1992' como base política comum, a
salvaguardar a soberania e a integridade territorial do país", assim como
manter a estabilidade dos dois lados do Estreito da Formosa.
Um
novo foco de tensão entre a Pequim e Taipé surgiu após a vitória nas eleições
presidenciais do ano passado da independentista Tsai Ing-wen, do Partido
Democrata Progressista (PDP), que obteve 75,6% dos votos.
Tsai
recusou aceitar o chamado 'Consenso de 1992', ao abrigo do qual ambas as partes
reconhecem o princípio de "uma só China", mas cada um dos lados faz a
sua própria interpretação desse princípio.
DM
(FV/ISG) // DM
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