Em
1999 a Indonésia aceitou a realização de um referendo sobre o futuro de
Timor-Leste, uma antiga colónia portuguesa que tinha ocupado em 1975.
Há exatamente 18 anosm em Junho de 1999, já com a presença da ONU, de jornalistas, de polícias e
militares integrados nas forças internacionais requeridas pelas Nações Unidas,
após o referendo cujo resultado de repúdio à integração de Timor na Indonésia,
por uma nação livre e independente, começou a matança indiscriminada. Era a
frustração, a raiva assassina, do criminoso ocupante indonésio, liderado por
forças militares indonésias que mobilizaram e armaram milícias que devastaram
Timor e centenas de timorenses – como se antes, por quase 25 anos de ocupação,
não tivessem já assassinado cruelmente cerca de 250 mil timorenses.
Este
filme é do que trata. Da última operação de chacinas lideradas pela Indonésia e
muitos dos seus generais, polícias e militares criminosos, que escaparam impunemente a
serem julgados pelo Tribunal Internacional. Tão pouco pelos tribunais indonésios, exceptuando uns quantos de modo folclórico, insano e injusto. Um arremedo de
paliativo que teve por resultado perceber melhor os farsantes que compõem a
justiça indonésia e o seu sistema pseudo-democrático.
Aqui,
o título do filme é “Timor-Leste Debaixo de Fogo”, mas só engloba o período pós-referendo. Na abrangência do período de toda a ocupação, quase 25 anos, a ser realizado
um filme, ao estilo do realizador português Manuel de Oliveira, a sua duração
seria garantidamente de dezenas de horas. O título que lhe assentava com toda a
propriedade seria simples: “Genocídio”.
É
esse genocídio praticado pela Indonésia em Timor-Leste que nunca devemos
esquecer. Para mais por ser até hoje um genocídio cujos autores ficaram
impunes. Bem como os que, não sendo indonésios nem timorenses, contribuíram com
as suas decisões para a concretização desse avultado genocídio. Personalidades
norte-americanas e portuguesas também têm a sua quota-parte de
responsabilidades. Alguns até já faleceram, o que não invalida que por
interesse inalienável de se fazer justiça devessem ser julgados simbólica e postumamente.
Quis
a indómita coragem dos timorenses que a história fosse escrita com o aparo do
testemunho do seu patriotismo e do esvair do seu sangue, das suas vidas, para o
solo avermelhado da sua Nação. Eles sempre souberam que só assim, dando filhos à
Pátria, defendendo-a, exigindo-a acima de tudo, enquanto existisse um timorense,
um dia a almejada liberdade e independência seria por eles conquistada. E foi.
E é., todos os dias.
Que além dos timorenses também os deuses protejam aquela Pátria Amada. Que as novas gerações nunca esqueçam os heróis (homens e mulheres) que
lutaram e muito mais têm de lutar a fim de sustentar Timor-Leste livre e
independente. Como é referido pela comunidade internacional: “A nação mais democrática
do sudeste asiático”. Felizes filhos que merecem por inteiro a Pátria que até
agora já construíram e que muito mais e melhor hão-de construir.
Nunca esqueçamos o que nos é transmitido neste filme. É uma ínfima parte daquilo que foi a terrível e sofrida realidade vivida pelo povo timorense durante 25 anos de ocupação indonésia.
Mário
Motta / António Veríssimo
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