terça-feira, 27 de junho de 2017

Timor-Leste precisa de um Plano Nacional de Formação de Quadros | M. Azancot de Meneses


Próximo governo de Timor-Leste terá que conceber um Plano Nacional de Formação de Quadros

No dia 22 de Julho realizar-se-ão as próximas eleições legislativas em Timor-Leste e será formado o VII Governo Constitucional. Independentemente do governo que vier a ser formado, o país tem um Plano Estratégico de Desenvolvimento projectado para 2030 que não poderá deixado de ser tomado em consideração pelo novo executivo.

O Jornal Tornado, sobre esta problemática, decidiu entrevistar o Dr. Azancot de Menezes, especialista em educação e formação, considerado um dos quadros superiores mais conceituados de Timor-Leste.
Entrevista

Jornal Tornado: Dr. Azancot de Menezes, bom dia, começamos por agradecer a sua disponibilidade em conceder esta entrevista que nos parece fundamental para quem deseja compreender melhor a situação em Timor-Leste. Num momento em que se aproxima a formação de um novo governo, gostaríamos de saber a sua opinião relativamente à implementação e cumprimento do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste.

Azancot de Menezes: O Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste (2011 – 2030) apresenta um sumário de estratégias, acções e metas para 2020, destacando que o sistema de educação e de formação profissional deverá formar os recursos humanos qualificados que Timor-Leste necessita para continuar a construção da Nação.

O documento estratégico refere, também, que em 2030 o povo de Timor-Leste será instruído e bem formado, com longa esperança de vida e produtiva, e terá acesso a uma educação de qualidade que lhe permitirá participar no desenvolvimento económico, social e político da nossa Nação.

Segundo o plano governamental, haverá um serviço de saúde abrangente e de grande qualidade, acessível a todos os timorenses, e terá sido reduzida a pobreza porque haverá elevados níveis de rendimento e melhorado a produtividade nacional, com recursos naturais e o meio ambiente geridos de forma sustentável para benefício de todos, havendo sectores de indústria criativas que contribuirão para a nossa economia e o nosso sentido de identidade nacional.

O documento, tal como o apresenta, é ambicioso e todos sabemos que da teoria à prática há um longo caminho a percorrer, principalmente devido ao facto de Timor-Leste estar com carência de quadros. Concorda comigo? 

Totalmente! O nosso país enfrenta esse problema, de forma conjuntural e estrutural. Não temos quadros médios e superiores em número suficiente e qualificados! Portanto, a educação e a aposta na qualificação dos recursos humanos são imperativos para se dar cumprimento ao Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste.

Quadros médios e superiores

Em Maio de 2017 realizou-se, em Díli, o 3º Congresso Nacional de Educação. Sabemos que estiveram presentes especialistas e houve o envolvimento do governo…

Este encontro, sem dúvida, foi uma excelente iniciativa do Ministério da Educação, contudo, ao falarmos em educação e formação, na prática, continuamos sem encontrar respostas relativamente ao perfil dos professores que desejamos para Timor-Leste, informações que são imprescindíveis para a mudança qualitativa da educação e do futuro do nosso país.

Quais são os principais constrangimentos em relação à formação de professores e de quadros técnicos em geral?

Há um conjunto de questões fundamentais que devem merecer análise cuidada e necessitam de ser discutidas pelos especialistas e pelos decisores que definem as políticas do país.

No domínio da educação, por exemplo, não se sabe em rigor qual é o ponto de situação actual em relação à formação inicial e contínua de professores. Até ao momento não foi ainda realizada uma avaliação credível sobre a formação de professores em Timor-Leste.

Quais são os custos, os recursos humanos, os materiais e o equipamento necessários para darmos cumprimento a uma política educativa de qualidade defendida no Plano Estratégico de Desenvolvimento? Colocar este tipo de perguntas e encontrar respostas é um desafio crucial para a resolução de muitos constrangimentos inerentes à formação e educação.

Prioridade após as eleições?

Após a realização das próximas eleições legislativas será formado o VII Governo Constitucional. Na sua opinião, o que é que o governo deveria realizar como prioritário no domínio da formação de quadros no âmbito do plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste?

O novo executivo nacional, seja ele qual for, não poderá deixar de assumir como relevante e altamente estratégico introduzir na agenda política nacional a importância da obrigatoriedade que se impõe em torno da concepção de um Plano Nacional de Formação de Quadros (2018-2028).

O país tem doze instituições de Ensino Superior, públicas e privadas. Estima-se que existam 1222 docentes com o grau de licenciado, 750 com o grau de mestre e 50 com o grau de doutor.

Mas, pergunto, quais são de facto as necessidades de formação graduada e pós-graduada? Há algum estudo realizado sobre essa matéria e que oriente as universidades e escolas superiores?

Quais são as prioridades e programas de acção para a formação de quadros médios e superiores, para a administração pública e outros sectores? Quais são os resultados esperados e a estimativa de custos para os programas de formação de quadros?

Há algum documento orientador sobre a política de formação profissional na administração pública? Existe um balanço de necessidades de formação da oferta educativa interna nos domínios estratégicos de formação média e superior?

Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste (2011 – 2030)

Timor-Leste precisa de um documento orientador para a formação de quadros que tenha em consideração as necessidades de formação? É isso que defende?

Com certeza! Para respondermos de forma eficaz a questões desta natureza é imprescindível que Timor-Leste conceba um documento orientador da capacidade em termos técnicos e científicos, em harmonia com o Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste (2011 – 2030), e que de forma sustentável consubstancie um plano de implementação especificando aspectos de operacionalização, acções, cronogramas e investimentos.

O próximo Governo de Timor-Leste, caso esteja mesmo interessado no desenvolvimento social e económico do país, como espelha o Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste (2011 – 2030), terá que assumir o compromisso
de garantir a estratégia nacional de formação de quadros mediante um Plano Nacional de Formação de Quadros e que este seja um documento estratégico, com rigor científico, pelo seu horizonte de acção, e com projecções sobre as necessidades de formação até, digamos, 2028.

Dr. Azancot de Menezes agradecemos muito o seu contributo em ajudar-nos a compreender melhor a situação de Timor-Leste. Desejamos os melhores sucessos para o próximo governo e para os timorenses.

Eu é que agradeço! A discussão e a análise com pensamento crítico é um dos défices do nosso país, portanto, será sempre um prazer e obrigação minha discutir e problematizar em torno de questões tão importantes e estratégicas para o nosso desenvolvimento.

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