Díli,
10 jul (Lusa) - O Presidente timorense defendeu hoje uma revisão da legislação
sobre as forças de Defesa, para garantir que se adequa à realidade da
instituição, como a obrigação de desmobilização dos maiores de 60 anos.
"Se
há leis anteriores que já não correspondem à realidade do desenvolvimento da
instituição FDTL, essas leis devem ser revistas", disse à Lusa o chefe de
Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, no decurso da primeira visita ao comando das
Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) em Díli.
"Se
alguma lei diz que os que atingem os 60 anos devem ser desmobilizados, eu acho
que esse assunto deverá ser muito bem estudado pelo futuro Governo e pelo
Presidente da República, no sentido de assegurar as forças armadas e poder
assim desenvolvê-las para a frente, para o futuro", explicou.
O
assunto é particularmente importante porque a 06 de outubro caduca o mandato
dos três principais comandantes das F-DTL, cuja permanência no cargo já foi
'esticada' além do que previa a lei e através de uma alteração por decreto ao
estatuto dos militares.
Em
causa estão os mandatos do major-general Lere Anan Timur, chefe do Estado-Maior
General das Forças Armadas, do brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus,
vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, e do coronel Falur Rate
Laek, como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
A
questão da sucessão no comando das F-FDTL causou um dos maiores momentos da
tensão entre o Governo e o anterior Presidente Taur Matan Ruak (que foi
antecessor de Lere no comando das FDTL), e que chegou a exonerar o comandante,
a anunciar depois a promoção de Filomeno Paixão para o cargo e que acabou por
prolongar o mandato dos três, indo de encontro a uma proposta nesse sentido do
executivo.
Mais
do que uma questão puramente legislativa, a sucessão prende-se com a ligação
que os membros mais velhos da instituição representam das FDTL ao seu
antecessor, o braço armado da resistência à ocupação indonésia, as Falintil.
A
saída dos mais velhos, todos eles veteranos da luta - o próprio Lu-Olo que é
hoje comandante supremo das FDTL foi guerrilheiro - implicaria uma transição
geracional para uma força mais ?desligada' desse passado.
Além
desse processo, que naturalmente terá que ocorrer, há ainda a questão do novo
conceito estratégico de defesa natural, que tem que ser vertido em legislação e
o fortalecimento das capacidades técnicas e humanas da força que, por exemplo,
luta com carências para atuar no mar.
Questionado
pela Lusa sobre se o comando deveria ser reconduzido, Lu-Olo não disse
"nem que sim nem que não", remetendo o assunto para a consideração do
Governo que sairá do parlamento que é eleito a 22 de julho próximo.
"Mas
uma coisa é certa e devo dizer muito claro. Se introduzirmos o elemento
Falintil no conceito de desenvolvimento das FDTL, essa presença ainda é
possível para assegurar o desenvolvimento das F-FDTL", disse.
À
questão da Lusa sobre se quer, ou não, continuar no cargo, Lere disse que
acatará a decisão das instituições do Estado, considerando que está preparado
para servir a nação enquanto a saúde o deixar.
"Ninguém
me pergunta se quero ou não quero. Quando fiz a guerra ninguém me perguntou se
queria fazer a guerra ou não. A questão é o interesse nacional. Eu lutei por
uma causa, pela independência. Agora já estamos independentes. O meu anseio, a
minha preocupação é a estabilidade nacional. Sem isso, falarmos de progressos,
de desenvolvimento não tem sentido", afirmou.
"O
que me interessa, com Lere ou sem Lere, com Taur ou sem Taur, com Xanana ou sem
Xanana, é estabilidade nacional. Se os políticos acharem que formando os
jovens, podem assegurar a nação, o Estado, para garantir a estabilidade, não há
problema. Eu, enquanto estou com condições de saúde vou servir a nação, servir
o meu povo até não poder", acrescentou.
Lere
disse que Timor-Leste não pode desperdiçar nem novos nem velhos e recordou,
especialmente em momento de eleições, que o povo está maduro e continua a olhar
para líderes não para os partidos.
"A
velhice é o único caminho que a gente segue", disse.
"Agora
vai muita gente à campanha do CNRT porque está lá o Xanana, vão milhares e
milhares à campanha da Fretilin porque está lá o Mari. Vai a uma campanha do PLP
porque está ali o Taur. Daqui a 20 anos isso já não acontece", afirmou.
Ganhe
quem ganhar, disse, "a geração antiga, os fundadores devem conjugar os
seus esforços para manter a paz e estabilidade e o desenvolvimento do
país".
Lu-Olo
visitou hoje pela primeira vez desde que tomou posse, a 20 de maio, o
quartel-general das F-FDTL.
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EJ
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