domingo, 16 de julho de 2017

Mari Alkatiri admite que pode não ser PM, mesmo com vitória da Fretilin

Pante Macassar, Timor-Leste, 15 jul (Lusa) - Mari Alkatiri admitiu hoje que, mesmo que a Fretilin vença as legislativas, poderá não assumir o cargo de primeiro-ministro timorense porque o partido "tem muitos quadros" e precisa de ser forte para apoiar a Presidência e o Governo.

"Já temos o presidente do partido como Presidente da República e o partido precisa de continuar forte a apoiar o Presidente e o Governo. Se levarmos toda a liderança para o executivo, o Governo do Estado, isso pode não acontecer", disse em entrevista à Lusa o secretário-geral da Fretilin.

A decisão vai ser tomada, explica, depois de conhecidos os resultados das legislativas do próximo sábado e após reunião da Comissão Política Nacional e do Comité Central.

Admitindo pressão para que assuma o cargo, Alkatiri - que falou à Lusa na sua residência em Pante Macassar, a capital do enclave de Oecusse - insiste que a Fretilin "tem muitos quadros neste momento".

"Há outras alternativas, na Fretilin não faltam alternativas. O problema é capacidade técnica ligada a autoridade histórica, à liderança. Porque o nosso país ainda precisa de muita liderança. O que não faria nunca é tentar teleguiar um outro primeiro-ministro", explicou.

Alkatiri mostrou-se confiante na vitória do partido no próximo sábado - "com maioria absoluta em alguns municípios e relativa noutros" - considerando que o único município onde não há certezas é Manatuto, terra forte de Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT).

Mas admite trabalhar com outro partido, em incidência parlamentar, ou com membros do partido no Governo, reiterando que ter elementos do partido não significa integrar o Fretilin no executivo.

"A alternância é a mudança de um Governo, às vezes até de um melhor para um pior. Por isso prefiro falar em alternativa de governação, uma governação melhor, mais eficiente. As alternâncias que têm sido produzidas nunca têm sido alternativas", considerou.

Depois de uma década afastada do comando do Governo, disse, a Fretilin "acompanhou o fracasso dos outros" e os erros cometidos, que foram "uma escola" sobre o que não se deve fazer.

"Não é por acaso que o Xanana entrega o cargo de primeiro-ministro a Rui Araújo, da Fretilin. É competente e capaz tecnicamente e politicamente. Mas está a governar com os planos dos outros. Por isso é que tenho dito que lhe entregaram a cadeira, mas ficaram com a chave. E assim é difícil", disse.

Sobre a relação com Xanana Gusmão, presidente do CNRT, Mari Alkatiri rejeita o que dizem ser "provocações" durante a campanha - quando se referiram a tensão entre ambos que garante nunca ter existido, tentando diferenciar o líder do partido.

"Nem sequer se pode dizer que o CNRT é Xanana Gusmão. Xanana, em termos de formação, de passado e visão do futuro, não tem nada a ver com o que é o CNTR. O CNRT só prejudica Xanana", afirmou

"Nestes últimos 10 anos, houve dois grandes prejudicados: o povo e o Xanana por causa do Governo com o CNRT e os seus aliados", insistiu.

Mari Alkatiri conversa com a Lusa num espaço com três mesas, o seu "refúgio" escondido atrás da casa onde vive, no centro de Pante Macassar, próximo a um complexo das madres dominicanas, a poucos metros do restaurante Maubere.

A capital do enclave que durante 15 anos esteve praticamente esquecida - depois da destruição pós-referendo em setembro de 1999 - viveu nos últimos anos um processo de desenvolvimento sem precedentes.

Um pacote de novas infraestruturas - central elétrica, barragem, ponte, aeroporto e estradas, entre outras - que não afetaram ainda a tranquilidade de que goza a região, onde as praias estão limpas e se alargam, na distância, ainda sem turistas.

ASP // FPA

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