Díli,
12 set (Lusa) - Navios chineses com licença para operar em águas timorenses
voltaram a ser apanhados a pescar tubarão, espécie protegida em Timor-Leste,
durante uma operação conduzida em conjunto pela polícia timorense e pela
organização ambiental Sea Shepherd.
Gary
Stokes, responsável desta ação da Sea Sheperd, disse à Lusa que os navios foram
apanhados a pescar principalmente tubarão numa operação conduzida no sábado
passado ao largo do porto de Com, na costa norte de Timor-Leste.
Os
navios visados são das empresas chinesas Hong Long Fisheries e Pingtan Marine
Entreprises e têm desde final de 2016 uma licença para operar em águas timorenses.
A
operação envolveu o navio Ocean Warrior da Sea Sheperd que com lanchas rápidas
ajudou a transportar efetivos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) que
efetuaram a rusga no interior das embarcações, acompanhada e registada por
drones e por câmaras da organização ambiental.
"Com
a presença e proteção da PNTL, os membros da tripulação do Sea Shepherd
ajudaram a documentar a captura a bordo, confirmando suspeitas de que a frota
visava tubarões e não outro tipo de pesca", disse Stokes, contactado pela
Lusa a bordo do Ocean Warrior.
Stokes
explicou que a Sea Shepherd decidiu vir investigar a ação dos 15 navios
chineses na sequência de notícias divulgadas pela Lusa em fevereiro que
confirmaram que os navios tinham pescado ilegalmente mais de 40 toneladas de
tubarões em águas timorenses.
"Depois
das vossas notícias, decidimos vir até Timor e ver o que os navios andavam a
fazer porque sabemos que Timor-Leste não tem condições para patrulhar as suas
águas", disse Stokes.
"Andámos
à caça deles três semanas e finalmente conseguimos encontrá-los a 150
quilómetros a sul de Timor-Leste, onde conseguimos filmar como pescavam e que
as redes que traziam do mar estavam cheias de tubarão e de coral",
explicou.
A
notícia da Lusa em fevereiro levou o Governo timorense a anunciar, 24 horas
depois, uma investigação interministerial que em abril deliberou aplicar aos
quinze navios uma multa de 500 dólares cada.
"A
pesca do tubarão não foi intencional. Eles notificaram-nos quando começaram a
apanhar muitos tubarões. Isso foi tido em conta como um elemento que reduziu as
sanções", disse na altura à Lusa o ministro de Estado, Coordenador dos
Assuntos Económicos e também ministro da Agricultura e Pescas, Estanislau da
Silva.
Stokes
garante que isso não é verdade e que "mais de 95% do que tinham no navio
era tubarão" que foi pescado com "redes gigantes ancoradas no fundo
do mar numa zona com profundidade entre 60 e 80 metros" que danificaram
seriamente o coral da região.
"As
redes basicamente arrastam ao longo do solo marinho apanhando tudo e arrancando
coral que quando vem à superfície nas redes e é destruído à marretada. Não só
estão a dizimar a população de tubarões, mas a fazer sérios danos ao
ecossistema local", referiu.
Stokes
explicou que no sábado os botes de borracha do Ocean Warrior foram usados para
levar efetivos da PNTL a bordo dos navios onde tiveram acesso a tudo, desde a
zona de carga aos motores e comunicações.
"A
polícia fez um trabalho excelente, mas agora estamos à espera que o procurador
faça alguma coisa. Estamos aqui ao largo de Vemasse (no norte da ilha) a
observar os 15 navios, mas tememos que possam fugir nos próximos dias",
explicou Stokes.
"Está
um navio cargueiro a abastecer que vai depois reabastecer os 15 navios que,
tememos, vão sair das águas timorenses assim que puderem. O Governo tem que
atuar imediatamente", explicou.
Stokes
explicou que as licenças concedidas pelo Governo timorense aos navios
"permitem a pesca de todas as espécies" que vivem no solo marítimo e
insistiu que apesar de nem todos os tubarões serem protegidos a forma como
estão a ser "minados" é insustentável.
Stokes
refere que os navios são controlados por duas empresas chinesas que são
"parte de uma complexa rede empresarial", pertencente a um casal de
chineses e que o navio principal detetado com 40 toneladas de tubarão a bordo
em fevereiro, o Fu Yuan Yu Leng 999, recolhe tubarão noutras partes do mundo.
No
mês passado, o mesmo navio foi apresado no Parque Nacional das Galápagos com
300 toneladas de tubarões que recebeu de quatro navios pertencentes a Hong Long
Fisheries e Pingtan Marine Enterprises, com a tripulação do Fu Yuan Yu Leng 999
em prisão preventiva e o navio confiscado.
A
empresa que possui o Fu Yuan Yu Leng 999, Hong Long Fisheries, também possui os
15 navios que operam em Timor-Leste, embora a Pingtan Marine Enterprises,
listada no Nasdaq dos EUA, tenha anunciado aos seus acionistas que também
possuem os 15 navios e licenças que operam em Timor-Leste.
"As
empresas de pesca têm um relacionamento complexo e entrelaçado, ambas com base
em Fuzhou, na China e sendo propriedade da família Zhou. A Pingtan foi expulsa
da Indonésia pelo ministro das Pescas, Susi Prudjiastuti, em 2014, e até agora
não foram autorizados a voltar", recorda Stokes.
ASP
// VM
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