O
primeiro-ministro timorense reuniu-se hoje com vários responsáveis do país, na
sequência de uma rusga a navios chineses apanhados a pescar tubarão em águas do
país.
Rui
Maria de Araújo confirmou à Lusa que a reunião, em que estiveram o
procurador-geral, o ministro do Interior e o comandante da Marinha, entre
outros, foi convocada com urgência menos de um dia depois da agência Lusa ter
noticiado pormenores da rusga, efetuada no sábado pela Polícia Nacional de
Timor-Leste (PNTL), apoiada por elementos da organização ambiental Sea
Shepherd.
"Temos
que investigar o que ocorreu. As autoridades judiciais vão ver as provas
existentes e têm que tomar medidas. Vamos resolver isto", afirmou o
primeiro-ministro timorense à Lusa.
No
sábado, a Lusa noticiou que navios chineses, com licença para operar em águas
timorenses, voltaram a ser apanhados a pescar tubarão, espécie protegida em
Timor-Leste, durante uma operação conduzida em conjunto pela polícia timorense
e pela organização ambiental Sea Shepherd.
Gary
Stokes, responsável desta ação da Sea Shepherd, disse à Lusa que os navios
foram apanhados a pescar principalmente tubarão numa operação conduzida no
sábado passado ao largo do porto de Com, na costa norte de Timor-Leste.
Os
navios visados são das empresas chinesas Hong Long Fisheries e Pingtan Marine
Entreprises e têm desde final de 2016 uma licença para operar em águas
timorenses.
A
operação envolveu o navio Ocean Warrior da Sea Shepherd que, com
lanchas rápidas, ajudou a transportar efetivos da PNTL, que efetuaram a rusga
no interior das embarcações, acompanhada e registada por 'drones' e por câmaras
da organização ambiental.
O
ministro do Interior timorense, Longuinhos Monteiro, disse à Lusa que a
operação foi feita depois de uma denúncia de que os navios continuavam a pescar
tubarão e espécies protegidas, tendo a procuradora Angelina Saldanha dado
instruções para a inspeção.
"Durante
a inspeção encontraram milhares de tubarões dentro dos barcos. Tiraram fotos e
fizeram alguns inquéritos para recolha de dados. O relatório foi entregue ao
Ministério Público e estamos a aguardar instruções agora", disse.
Questionado
sobre preocupações da Sea Shepherd de que os navios - ainda ancorados ao largo
da costa norte - possam fugir de águas timorenses, o ministro disse que já
foram mobilizadas a polícia marítima e a componente naval das Forças de Defesa
de Timor-Leste (F-FDTL).
"Já
orientamos para que tomem as medidas necessárias para lidar com todas as
possibilidades. Mas com o mesmo relatório dos factos recolhidos, vamos ver com
o Ministério da tutela para ver que sanções administrativas podem ser já
impostas de imediato, sem esperar pelo processo criminal", disse.
Stokes
garantiu que "mais de 95%" do que estava no navio "era
tubarão", pescado com "redes gigantes ancoradas no fundo do mar numa
zona com profundidade entre 60 e 80 metros", que danificaram seriamente o
coral da região.
"Não
só estão a dizimar a população de tubarões, como a fazer sérios danos ao
ecossistema local", referiu.
O
ex-Presidente timorense José Ramos-Horta considerou "inaceitável" a
ação dos navios chineses, a operar em águas timorenses com licenças do Governo
desde o ano passado, e sublinhou que Díli tem que atuar.
Horta
explicou que desde abril que fez apelos a organizações ambientais, incluindo a
Sea Shepherd, para ajudarem Timor-Leste "a combater a pesca ilegal e com
total impunidade" devido "aos meios inexistentes de interdição"
timorenses.
"É
inaceitável. Deve haver uma grande multa e os navios devem sem apreendidos até
que a multa seja paga", afirmou, defendendo um acordo para a segurança
marítima com a Austrália.
"Os
australianos sempre se disponibilizaram para apoiar Timor-Leste nesta matéria,
ajudando a fortalecer as condições do país. É uma solução ainda que não resolva
a 100%. O Governo tem que atuar", afirmou.
Lusa
| em SAPO TL | Foto@ Jake Parker/Sea Shepherd/EPA/Lusa
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