Rangoon, Myanmar, 11 jan (Lusa) -
Dois jornalistas da agência Reuters foram acusados na quarta-feira de violação
do "segredo de Estado" num inquérito sobre a situação no oeste de
Myanmar, onde o exército é acusado de "limpeza étnica" contra os
'Rohingyas'.
"Pedimos a sua libertação
sob caução, mas isso rejeitado pelo procurador", explicou à agência
noticiosa francesa AFP o advogado dos jornalistas, Khin Maung Zaw, depois da
decisão do tribunal de Rangoon.
Wa Lone, de 31 anos, e Kyaw Soe
Oo, de 27, são acusados de possuir documentos relativos às operações das forças
de segurança no Estado Rakhine, no norte de Myanmar.
A acusação de hoje eliminou as
esperanças internacionais de uma libertação rápida dos dois jornalistas detidos
em 12 de dezembro.
Myanmar, antiga Birmânia, aboliu
em 2012 a censura, mas determinadas leis continuam a entravar a liberdade da
imprensa e os jornalistas birmaneses defendem que a autocensura continua forte,
designadamente quando se trata de questões relativas ao exército ou à religião.
O exército birmanês admitiu hoje
o envolvimento no massacre de dez 'Rohingya' e também reconheceu pela primeira
vez a existência de uma fossa comum de membros desta minoria muçulmana no
Estado Rakhine (norte).
Até agora, o exército birmanês
tinha sempre negado as acusações dos 'Rohingya', de massacres, violações e atos
de tortura contra aquela comunidade.
A operação militar lançada pelo
exército birmanês empurrou cerca de 655.000 'Rohingya' a fugirem para o vizinho
Bangladech desde agosto passado.
Num país marcado por um forte
nacionalismo budista, os muçulmanos 'Rohingya' representam a maior população
apátrida do mundo desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em
1982, pelo regime militar.
Vítimas de discriminação, os
'Rohingya' não têm documentos de identidade e não podem viajar ou casar-se sem
autorização, nem acesso ao mercado de trabalho nem aos serviços públicos como
escolas e hospitais.
MC // ARA
Foto: O jornalista Wa Lone (à
frente) e o jornalista Kyaw Soe Oo (atrás) à saída do tribunal em Yangon, esta
manhã / Lynn Bo Bo / EPA
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